|Assim repito o nome e sinto ainda o incêndio no rosto :|| paul celan |Porque é com nomes que alguém sabe | onde estar um corpo| por uma ideia, onde um pensamento | faz a vez da língua.| herberto helder
maio 18, 2019
maio 05, 2019
"A casa é a casa de família, é para lá pôr as crianças e os homens, para os manter num lugar feito para eles, para conter a sua perdição, para os distrair desse humor de aventura e de fuga que é o deles, desde o princípio dos tempos. Quando se aborda esse tema o mais difícil é chegar ao material liso, sem asperezas, que é o pensamento da mulher em torno dessa empresa demente que uma casa representa. A de procurar o ponto de união comum às crianças e aos homens.
O próprio lugar da utopia é a casa criada pela mulher, essa tentativa à qual ela não resiste, e que é a de interessar aos seus não a felicidade mas na procura dela, como se os próprio interesse do empreendimento andasse em torno dessa procura, exactamente, e não se pudesse rejeitar com firmeza a proposta só por ser geral. A mulher diz que é preciso simultaneamente desconfiar e compreender esse interesse singular pela felicidade. Pensa que isso vai levar as crianças, mais tarde, a procurarem um estado feliz da vida. É o que pretende a mulher, a mãe, levar o filho a interessar-se pela vida. A mãe sabe que o interesse pela felicidade dos outros é menos perigosa para a criança do que acreditar na felicidade para a própria. (...)
São as coisas em que as mulheres pensam muito, durante anos, e que fazem o leito do pensamento delas quando as crianças são pequenas: como evitar-lhes o mal. E isso para quase nunca levar a nada.
(...)
A casa interior. A casa material.
A primeira escola foi a minha própria mãe."
Marguerite Duras | A vida material | Difel | 1987
maio 03, 2019
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©raquelsav | 2019 |
PLAY Chet Baker | Almost Blue
Seria seguro que nos amarrassem os pés ao céu,
se neles houvesse todo o peso da terra.
Levitar, assim, distraidamente,
num poema inventado para fazer voar,
desses de dar asas a quem não tem onde cair vivo.
E, tão pesadamente, voar mesmo assim,
para esses lugares onde nascem os verbos
e repousam, sem fim, as palavras que não existem,
ainda.
maio 01, 2019
fotogramas "Ovsyanki" | 2010 | Aleksei Ferdorchenko
“A água é o sonho de todo o Merja. Afogamentos para sufocar
de ternura, alegria e saudade. Se
encontramos alguém que se afogou, não o queimamos. Nós amarramo-lo a um peso e
devolvemo-lo à água. A água substitui o seu corpo por um novo, flexível. Morrer
da água é a imortalidade para um Merja. (...)
Meu pai sonhava com afogamento, mas os Merja não se afogam.
É descortês correr para o céu à frente dos outros. A própria água escolhe as pessoas. Ela é o juiz. (...)
O corpo de uma mulher também é um rio que leva a tristeza embora. A única pena é que não nos podemos afogar nele.”
O corpo de uma mulher também é um rio que leva a tristeza embora. A única pena é que não nos podemos afogar nele.”