|Assim repito o nome e sinto ainda o incêndio no rosto :|| paul celan |Porque é com nomes que alguém sabe | onde estar um corpo| por uma ideia, onde um pensamento | faz a vez da língua.| herberto helder
Mostrar mensagens com a etiqueta *Filmes. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta *Filmes. Mostrar todas as mensagens
junho 27, 2024
outubro 29, 2023
Fotograma do filme “o quadrado” de Ruben Östlund (2017) |
APELO
De vez em quando paramos de crescer. É da chuva, do frio, desta humidade a que estão sujeitos no norte ossos e barcos, árvores e pedras. É então grande a tentação da pocilga. Como se o fecundo calor do porco fosse uma promessa, um apelo, às nossas trevas, do sol escondido na palha apodrecida”.
Eugénio de Andrade, 1.12.1985
outubro 03, 2023
Fotogramas de "Drive my car" de Ryusuke Hamaguchi
debaixo do queixo e começa a tocar e, de repente, algo se mexe dentro dela e ela é levantada e ergue-se mais e mais e na música que ele toca… ela sabe o que sabe e deste modo ela está ali presente no seu próprio futuro e tudo em aberto e tudo é difícil menos a canção, essa está ali e deve ser a canção a que chamam amor, e assim ela só está presente na música que está a ser tocada e não quer existir em nenhum outro lugar…
Jon Fosse | Triologia
setembro 11, 2023
agosto 02, 2023
julho 15, 2023
fevereiro 08, 2023
maio 03, 2019
maio 01, 2019
fotogramas "Ovsyanki" | 2010 | Aleksei Ferdorchenko
“A água é o sonho de todo o Merja. Afogamentos para sufocar
de ternura, alegria e saudade. Se
encontramos alguém que se afogou, não o queimamos. Nós amarramo-lo a um peso e
devolvemo-lo à água. A água substitui o seu corpo por um novo, flexível. Morrer
da água é a imortalidade para um Merja. (...)
Meu pai sonhava com afogamento, mas os Merja não se afogam.
É descortês correr para o céu à frente dos outros. A própria água escolhe as pessoas. Ela é o juiz. (...)
O corpo de uma mulher também é um rio que leva a tristeza embora. A única pena é que não nos podemos afogar nele.”
O corpo de uma mulher também é um rio que leva a tristeza embora. A única pena é que não nos podemos afogar nele.”
agosto 20, 2018
agosto 16, 2018
![]() |
fotograma Cartas de um homem morto | Konstantin Lopushansky | 1986 |
"Hoje quero falar-vos de morto para morto. Quero falar com franqueza. Permitam-me um pequeno discurso em defesa da humanidade como género biológico. Este foi um género trágico que, possivelmente, estava condenado de antemão. O nosso fatal e maravilhoso destino consistiu em pretender alcançar o inalcançável, em queremos ser melhores do que nos fez a natureza. Achávamos forças para ser compassivos, contrariamente às leis da sobrevivência, para nos sentirmos dignos de nós mesmos, embora sempre fossemos espezinhados, por criarmos obras de arte, conscientes de que eram inúteis e efémeras. Achávamos forças para amar. Meus Deus, o que nos custou tudo isto! Pois o tempo implacável destruía corpos, ideias e sentimentos. Mas o homem continuava a amar. E o homem criou a arte, uma arte que reflecte o nosso anseio insuportável pela perfeição ideal, o nosso infinito desespero e clamor pelo horror. Um lamento de seres pensantes e solitários, neste gélido e indiferente deserto do Cosmos. (...) Direi que amei a humanidade. E amo ainda mais, agora que não existe, precisamente pelo seu trágico destino. (...) Cada um tem o seu próprio salto de consciência, possivelmente, este será o meu".
![]() |
fotograma Cartas de um homem morto | Konstantin Lopushansky | 1986 |
"Meu filho querido, imagine, estou a trabalhar, e o engraçado é que trabalho para o bem comum. Calculei o novo dia: 7200 minutos segundo a unidade antiga. Não é tão absurdo como possa parecer, pois os crepúsculos são uniformes. Mas até Deus, ao criar este mundo, teve de orientar-se no tempo. Ele inventou os dias e as noites e neles havia diversidade. Eu propus outra unidade de tempo: o crepúsculo, pois já não há diversidade no mundo."
![]() |
fotograma Faust | F. W. Murnau | 1926 |
E há dez anos que o mundo me vê
Levando atrás de mim a eito
Fiéis discípulos a torto e a direito -
E afinal vejo: nosso saber é nada!
É de ficar com a alma amargurada.
Sei mais, é claro, que todos os patetas,
Mestres, doutores, escribas e padrecas;
Nem escrúpulos nem dúvidas eu temo,
E não receio nem Inferno nem demo -
Não me resta réstia de alegria,
Nem me iludo com vã sabedoria,
Nem creio que tenha nada a ensinar
À humanidade que a possa salvar.
Johann W. Goethe (1749 -1832) | Fausto | Relógio D'Água | 2013