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maio 12, 2016

©Irving Penn
PLAY Leonard Cohen | Famous Blue Raincoat        PLAY Tori Amos | Famous Blue Raincoat

Como duas velhas beatas de cigarro,
a criarem raízes em terrenos inférteis. 
Yours, Sincerely

abril 15, 2016

©Irving Penn | Photo of Igor Stravinsky | 1948
"Só as palavras rompem o silêncio, tudo o resto se calou. Se eu me calasse, não deixaria de ouvir fosse o que fosse. Mas, se eu me calasse, voltariam outros ruídos, os ruídos que as palavras não me deixam ouvir, ou que deixaram realmente de se ouvir. Mas calo-me, acontece, não, nunca, nem por um segundo. Também choro, sem parar. É uma torrente ininterrupta, de palavras e lágrimas. Tudo sem reflectir. Mas falo mais baixo, de ano para ano um pouco mais baixo. Talvez. Mais devagar também, de ano para ano mais devagar. Talvez, não dou conta. As pausas seriam portanto mais longas, entre as palavras, as frases, as sílabas, as lágrimas, confundo as palavras com as lágrimas, as minhas palavras são as minhas lágrimas, os meus olhos são a minha boca. E deveria ouvir, a cada breve pausa, se há silêncio como eu digo, ao dizer que só as palavras o rompem. Mas não, é sempre o mesmo murmúrio, fluido, sem hiato, como uma única palavra sem objectivo e portanto sem significado, porque é o objectivo que dá significado às palavras. Sendo assim, com que direito, não, desta vez sei onde quero chegar, e paro, dizendo, Nenhum, nenhum."

Samuel Beckett (1958) | Novelas e Textos para Nada | Assírio&Alvim | 2006

março 03, 2016

©Irving Penn, Marrocos
 PLAY Popol Vuh Gemeinsam Aben Sie das Brot

Por isso cerro os olhos na iminência do pão.
A mesa fica tão vazia
quando nela habita um pão inteiro,
sem mão, sem faca.

Dobrámos a língua,
digerimos a cadência,
repetimos à exaustão:
|| Brot, bread, pan, pain, 
Brot, bread, pan, pain,
Brot, bread, pan, pain, 
Brot, bread, pan, pain :||

Multiplicámos o pão:
pain, pain pain pain, ...
até descobrirmos a alquimia fonética.

Transmutámos pão em dor.
Repartimos,
tomámos
e comemos.

outubro 29, 2015

©Irving-penn: amber-valletta-new-york-1996
PLAY Carmen McRae A song for you

MENDIGA VOZ

E ainda me atrevo a amar
o som da luz numa hora morta
a cor do tempo num muro abandonado.

No meu olhar perdi tudo.
É tão longe pedir. Tão perto saber que não há.


Alejandra Pizarnik (1936-1972)
Antologia Poética, O correio dos Navios, 2002

outubro 23, 2015

©Irving Penn ultra penn dancer

MARINHA MARINHEIRA MARESIA

Eu olho para ti e o sol torna-se maior
Vai em breve cobrir-nos  o dia
Desperta com o coração e a coloração em mente
Para dissipar o mal da noite

Eu olho para ti tudo está reduzido à sua expressão mais simples
Lá fora a fundura não é muita para os barcos
É preciso dizer tudo em poucas palavras
Quando não há amor o mar dá frio

É o começo do mundo
As vagas vão embalar o céu
E tu embalas-te nos teus lençóis
Puxas o sono para o teu lado

Acorda para que eu possa seguir-te os passos
Tenho um corpo para t'esperar p'ra ir atrás de ti
Das portas da aurora às portas da sombra
Um corpo para passar a vida a fazer-te amor

Um coração para sonhar do lado de fora do teu sono.

Paul Éluard (1963)
Últimos poemas de amor, Relógio d'Água, 2002

julho 31, 2015

©Irving Penn. Man with pink face, new Guinea, 1970
QUARTO SOMENTE
Se te atreves a surpreender
a verdade desta velha parede;
e as suas fissuras, escaras,
formando rostos, esfinges,
mãos, clepsidras, 
seguramente virá
uma presença para a tua sede,
provavelmente partirá
esta ausência que te bebe.

Alejandra Pizarnik
Antologia Poética, O correio dos Navios, 2002

agosto 03, 2014

Herta Müller


©Irving Penn
"Lola era do Sul do país e via-se-lhe no rosto uma terra que permanecera pobre. Não sei onde, talvez nos ossos da face ou no redor da boca ou mesmo no meio dos olhos. É difícil precisar uma coisa destas, quer se trate de uma terra ou de um rosto. Todas as regiões do país tinham permanecido pobres, também em todos os rostos. Porém, a terra de Lola, e isso era visível nos ossos da face ou em redor da boca ou mesmo no meio dos olhos, era talvez mais pobre. Mais terra que paisagem.
(...)
Mais tarde, li no caderno de Lola: o que se leva da terra, leva-se no rosto."
Herta Müller
A terra das Ameixas verdes