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maio 05, 2019

"A casa é a casa de família, é para lá pôr as crianças e os homens, para os manter num lugar feito para eles, para conter a sua perdição, para os distrair desse humor de aventura e de fuga que é o deles, desde o princípio dos tempos. Quando se aborda esse tema o mais difícil é chegar ao material liso, sem asperezas, que é o pensamento da mulher em torno dessa empresa demente que uma casa representa. A de procurar o ponto de união comum às crianças e aos homens.
    O próprio lugar da utopia é a casa criada pela mulher, essa tentativa à qual ela não resiste, e que é a de interessar aos seus não a felicidade mas na procura dela, como se os próprio interesse do empreendimento andasse em torno dessa procura, exactamente, e não se pudesse rejeitar com firmeza a proposta só por ser geral. A mulher diz que é preciso simultaneamente desconfiar e compreender esse interesse singular pela felicidade. Pensa que isso vai levar as crianças, mais tarde, a procurarem um estado feliz da vida. É o que pretende a mulher, a mãe, levar o filho a interessar-se pela vida. A mãe sabe que o interesse pela felicidade dos outros é menos perigosa para a criança do que acreditar na felicidade para a própria. (...)
    São as coisas em que as mulheres pensam muito, durante anos, e que fazem o leito do pensamento delas quando as crianças são pequenas: como evitar-lhes o mal. E isso para quase nunca levar a nada. 
(...)
   A casa interior. A casa material.
   A primeira escola foi a minha própria mãe."

Marguerite Duras | A vida material | Difel | 1987