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abril 26, 2015

©Stuart Franklin. INDIA. Near Cochin, Kerala. Preparing coconut oil. 1998

PLAY Madrugada Strange Colour Blue

"tenho sempre os dedos frios, enrugados, como se me tivesse fugido o sangue e eu fosse um saco quase vazio, nem sei se é o polegar que sente o indicador, se o indicador que sente o polegar, tudo se transtorna, até as palavras, digo-as e elas estranham a minha boca, talvez seja melhor escrevê-las. Letra a letra, silenciá-las, para que assim desapareçam, Mãe, que está a tentar escrever, no tampo da mesa? que nome é esse?
um nome é uma dor que nos escolhe. Ultimamente, porém é sempre a mesma dor, o mesmo nome, perseguido pela luz, devorado pela luz, 
Não se fixa esta cegueira,
não se fixa a tua cabeça, mãe."

"a luz do rio atravessou as vidraças e cintila na parede, o gato saltou pela janela e aconchegou-se no colo da minha mãe que lhe começa a fazer festas, a mão desenha o gato com o vagar da ternura, e os lábios movem-se: bichaninho meu, bichaninho querido, ou: mitzi mitzi: murmuram, rezam: diria a freira se aqui estivesse, mas eu sei que não rezam, nunca rezaram, embora no abandono todas as palavras se assemelhem a uma oração e se dirijam a mortos ou deuses"

Rui Nunes
Os olhos de Himmler, Relógio D'Água

março 01, 2015

[#5] Estou a escrever-te de um país distante


©Stuart Franklin USA. Yellowstone. 1999. 
Lodgepole pines after the 1988 fires.
 "Estou a escrever-te do fim do mundo. Tens de sabê-lo. É vulgar as árvores estremecerem. Apanham-se as folhas. Com tantas nervuras que nem se imagina. Mas para quê? Já não têm nada a ver com a sua árvore, e por isso dispersamos, contrariadas.
     A vida na terra não poderia prosseguir sem vento? Ou tem tudo sempre, sempre que tremer?
     Também há movimentos subterrâneos, e em casa é como se viessem cóleras ter connosco, como se austeros seres viessem arrancar-nos confissões.
     Nada vemos, do que importa tão pouco ver-se. Nada, e no entanto trememos. Porquê?"

Henri Michaux, Estou a escrever-te de um país distante, Hiena Editora, 1986
(tradução de Aníbal Fernandes)

novembro 07, 2014


©Stuart Franklin MALAYSIA. Kepong Forest Reserve

PLAY Nils Frahm - Toilet Brushes

Um relógio e um pulso gasto.

Uma cama e um corpo morto.

Um cérebro e uma floresta de enganos.