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setembro 26, 2015

"ONDE cheirar a merda
cheira a ser.
O homem podia muito bem deixar de cagar,
deixar de abrir a bolsa anal,
mas preferiu cagar
como poderia ter preferido viver
em vez de consentir em viver morto.

É que para não fazer cócó
teria que aceder
a não ser,
mas ele é que não foi capaz de se resolver a perder o ser,
isto é a morrer vivo.

Existe no ser 
algo particularmente tentador para o homem
algo que vem a ser justamente 
         O CÓCÓ
          (aqui rugido.)

Para existir basta que se condescenda em ser
mas para viver
é preciso ser alguém
é preciso ter OSSOS,
não ter medo de mostrar os ossos,
e de caminho perder a carne.

O homem sempre gostou mais da carne
do que da terra dos ossos.
É porque só o que havia era terra e madeira de ossos
e ele viu-se obrigado a ganhar a sua carne,
só o que havia era ferro e fogo
e merda não,
e o homem teve medo de ficar sem merda
ou antes desejou a merda
e para isso sacrificou o sangue.

Para ter merda,
quer dizer, carne,
ali onde só o que havia era sangue
e um ferro-velho de ossadas
e onde nada se ganhava em ser
mas onde só restava perder a vida
     o reche modo
     to edire
     de za
     tau dari
    do padera coco

Retirou-se o homem então, e fugiu.
E então os bichos comeram-no.

Não foi uma violação,
ele prestou-se a esse obsceno repasto.
(...)"

Antonin Artaud (1948)
Para Acabar de vez com o juízo de Deus, &etc.