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outubro 01, 2016

novembro 07, 2015

PLAY Naifa Subida aos céus


"Quero ser amada só por mim
E não por andar enfeitada
Ser adorada mesmo assim
Careca, nua e descarnada

Engano de alma ledo e cego
Ó linda Inês posta em sossego imortal
Diz adeus

Com perfumes a presa fácil
Com joias casacos de peles
Gosto do amor quando é difícil
E cheira ao meu hálito reles

Quero ser amada à flor da pele
Não quero peles de vison
Amada p'lo sabor a mel
Não pela cor do baton

Engano de alma ledo e cego
Ó linda Inês posta em sossego imortal
Diz adeus

Com cabeleira a presa fácil
Há quem se esconda atrás dos pelos
Gosto do amor quando é difícil
De ser amada sem cabelos

Quero que me beijem a caveira
E o meu ossinho parietal
Que se afoguem na banheira
Pelo meu belo occipital

Engano de alma lego e cego
Ó linda Inês posta em sossego imortal
Diz adeus

Com carne viva a presa fácil
É ordinário e absoleto
Gosto do amor quando é difícil
Quando me aquecem o esqueleto

Quero ser amada pela morte
E p'los meus ossos de luar
Quero que os cães da minha corte
Passem as noites a ladrar

Engano de alma ledo e cego
Ó linda Inês posta em sossego imortal
Diz adeus

Sobe aos céus
Sobe aos céus

Quero ser amada só por mim
E não por andar enfeitada
Ser adorada mesmo assim
Careca, nua e descarnada"

fevereiro 20, 2015

©Nikos Economopoulos.
Euboea island. Gipsy girls dressed up for the feast of St. John. 1997

A memória congela a imagem, uma pause de fita. Amamos cada momento de pause. Amamos cada instante, cada migalha passada. Amamos as figuras que a mente constrói futuras. Achamos que amamos muito. Mas amaremos para além das nossas imagens? Para além dos nossos espelhos? Para além das construções à nossa semelhança e fantasia? Amaremos para além nós (próprios e impróprios)?

novembro 19, 2014

©Antoine D'Agata

(...)


Eu que me comovo
Por tudo e por nada
Deixei-te parada
Na berma da estrada
Usei o teu corpo
Paguei o teu preço
Esqueci o teu nome
Limpei-me com o lenço

Olhei-te a cintura
De pé no alcatrão
Levantei-te as saias
Deitei-te no banco
Num bosque de faias
De mala na mão
Nem sequer falaste
Nem sequer beijaste

Nem sequer gemeste
Mordeste, abraçaste
Quinhentos escudos
Foi o que disseste
Tinhas quinze anos
Dezasseis, dezassete
Cheiravas a mato
À sopa dos pobres

A infância sem quarto
A suor a chiclete
Saíste do carro
Alisando a blusa
Espiei da janela
Rosto de aguarela
Coxa em semifusa
Soltei o travão

Voltei para casa
De chaves na mão
Sobrancelha em asa
Disse: “fiz serão”
Ao filho e à mulher
Repeti a fruta
Acabei a ceia
Larguei o talher

Estendi-me na cama
De ouvido à escuta
E perna cruzada
Que de olhos em chama
Só tinha na ideia
Teu corpo parado
Na berma da estrada
Eu que me comovo
Por tudo e por nada

António Lobo  Antunes