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abril 26, 2015

©Stuart Franklin. INDIA. Near Cochin, Kerala. Preparing coconut oil. 1998

PLAY Madrugada Strange Colour Blue

"tenho sempre os dedos frios, enrugados, como se me tivesse fugido o sangue e eu fosse um saco quase vazio, nem sei se é o polegar que sente o indicador, se o indicador que sente o polegar, tudo se transtorna, até as palavras, digo-as e elas estranham a minha boca, talvez seja melhor escrevê-las. Letra a letra, silenciá-las, para que assim desapareçam, Mãe, que está a tentar escrever, no tampo da mesa? que nome é esse?
um nome é uma dor que nos escolhe. Ultimamente, porém é sempre a mesma dor, o mesmo nome, perseguido pela luz, devorado pela luz, 
Não se fixa esta cegueira,
não se fixa a tua cabeça, mãe."

"a luz do rio atravessou as vidraças e cintila na parede, o gato saltou pela janela e aconchegou-se no colo da minha mãe que lhe começa a fazer festas, a mão desenha o gato com o vagar da ternura, e os lábios movem-se: bichaninho meu, bichaninho querido, ou: mitzi mitzi: murmuram, rezam: diria a freira se aqui estivesse, mas eu sei que não rezam, nunca rezaram, embora no abandono todas as palavras se assemelhem a uma oração e se dirijam a mortos ou deuses"

Rui Nunes
Os olhos de Himmler, Relógio D'Água