![]() |
fotograma Cartas de um homem morto | Konstantin Lopushansky | 1986 |
"Hoje quero falar-vos de morto para morto. Quero falar com franqueza. Permitam-me um pequeno discurso em defesa da humanidade como género biológico. Este foi um género trágico que, possivelmente, estava condenado de antemão. O nosso fatal e maravilhoso destino consistiu em pretender alcançar o inalcançável, em queremos ser melhores do que nos fez a natureza. Achávamos forças para ser compassivos, contrariamente às leis da sobrevivência, para nos sentirmos dignos de nós mesmos, embora sempre fossemos espezinhados, por criarmos obras de arte, conscientes de que eram inúteis e efémeras. Achávamos forças para amar. Meus Deus, o que nos custou tudo isto! Pois o tempo implacável destruía corpos, ideias e sentimentos. Mas o homem continuava a amar. E o homem criou a arte, uma arte que reflecte o nosso anseio insuportável pela perfeição ideal, o nosso infinito desespero e clamor pelo horror. Um lamento de seres pensantes e solitários, neste gélido e indiferente deserto do Cosmos. (...) Direi que amei a humanidade. E amo ainda mais, agora que não existe, precisamente pelo seu trágico destino. (...) Cada um tem o seu próprio salto de consciência, possivelmente, este será o meu".