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março 13, 2015

[#8] Estou a escrever-te de um país distante


©Jean Gaumy. FRANCE. Cordovan lighthouse. January 2013.
Details. Screenshot of digital BW photographs taken with an iPhone.
 Color photographs taken with a digital reflex camera
     "Desde há muito, muito tempo, confia-lhe ela, andamos a debater-nos com o mar.
     É muito raro que azul, suave, ele nos pareça contente. E nem é coisa que dure. Di-lo o seu cheiro, aliás, um cheiro a podre (não fora a sua amargura).
     Eu devia explicar agora o caso das ondas. Incrivelmente complicado, e o mar... Por favor, confia em mim, Alguma vez eu quereria enganar-te? O mar não passa de uma palavra. Não passa de um medo. Existe, juro-te que existe, estamos constantemente a vê-lo.
     Quem? Nós, claro, nós estamos a vê-lo. Chega de muito longe a meter-se connosco e a assustar-nos.
     Quando vieres hás-de vê-lo, também tu, e a ficar muito espantado. "Olha só!, dirás, porque ele assombra.
     Havemos de vê-lo juntos. Julgo que deixarei de ter medo. Ou achas, diz-me lá tu, que isso nunca vai acontecer?"

Henri Michaux, Estou a escrever-te de um país distante, Hiena Editora, 1986
(tradução de Aníbal Fernandes)

março 06, 2015

[#7] Estou a escrever-te de um país distante


©Jean Gaumy.The Natural History Museum
 "Há leões, diz-lhe ela ainda, que nunca abandonam a aldeia e andam a passear sem nenhum pejo. Não apareça quem repare neles, e procedem connosco de igual forma.
     Mas vejam uma rapariga correr-lhes à frente, e nada fazem que desculpe a sua emoção. Qual quê! Vão logo comê-la.
     Por isto não param de passear na aldeia onde nada têm que fazer; sim, que bocejar podiam bocejar tão bem em qualquer outro lado, não é evidente?"

Henri Michaux, Estou a escrever-te de um país distante, Hiena Editora, 1986
(tradução de Aníbal Fernandes)