|Assim repito o nome e sinto ainda o incêndio no rosto :|| paul celan |Porque é com nomes que alguém sabe | onde estar um corpo| por uma ideia, onde um pensamento | faz a vez da língua.| herberto helder
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outubro 01, 2016
maio 10, 2016
"Born of a light"
©raquelsav | "serralharia" |
PLAY Radiohead | Desert Island Disk
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abril 19, 2016
novembro 20, 2015
outubro 12, 2015
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©E. J. Bellocq Untitled c. 1912 |
PLAY Radiohead Where I End and You Begin
... e a realidade desconjuntada a que nos emprestamos...
setembro 26, 2015
agosto 12, 2015
[#1] palimpsesto
Ontem, vi-te. Fui à Conservatória do Registo Civil e conheci-te. Renovavas o nome. Patenteavas o desespero, nessa imitação barata a que chamas vida.
"Que mais me irá acontecer?" - dizias.
E eu senti o cheiro da borralha, dos ossos desfeitos em fogo, quando a cinza, semi-apagada, nem de fertilizante serve.
A memória intersticial não dá para mais, principalmente se as urgências do corpo se sobrepõem a determinações literárias:
"Podia jurar que nunca te vi mais gordo". - disse.
"Ah, deve ser dos medicamentos, fizeram-me engordar"- brincaste.
Tudo o que senti foi vergonha. Não tanto por não te ter reconhecido mas porque o mais que me apetecia era foder-te ali, por inteiro. Não sei se me leste o pensamento ou se o murmurei, descuidadamente, mas juro que te ouvi dizer:
"Hoje, sim. Agora, também”.
"Que mais me irá acontecer?" - dizias.
E eu senti o cheiro da borralha, dos ossos desfeitos em fogo, quando a cinza, semi-apagada, nem de fertilizante serve.
A memória intersticial não dá para mais, principalmente se as urgências do corpo se sobrepõem a determinações literárias:
"Podia jurar que nunca te vi mais gordo". - disse.
"Ah, deve ser dos medicamentos, fizeram-me engordar"- brincaste.
Tudo o que senti foi vergonha. Não tanto por não te ter reconhecido mas porque o mais que me apetecia era foder-te ali, por inteiro. Não sei se me leste o pensamento ou se o murmurei, descuidadamente, mas juro que te ouvi dizer:
"Hoje, sim. Agora, também”.
Aguardámos em silêncio na bicha. Renovámos os cartões e eu encenei uma despedida:
- Prazer em conhecer-te.
- O prazer foi todo meu!
- Todo? Acho que não!
E sorrimos.
[Ourém, Conservatória do Registo Civil, 2015]
janeiro 23, 2015
dezembro 29, 2014
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©raquelsav
PLAY Radiohead Street Spirit
Não é caso de mendigar faces e sorrisos só porque não é dia de lembrar à lua o esquecimento do sol. Não são os mares que são grandes, o que não sabemos é navegar. Em cada viagem, torna-se mais nítido o desassossego do passo desconjuntado: acertá-lo, deixá-lo à deriva, mudar de pernas, ...? Despimos o rosto-posto, na hora das indecisões, para as dizimarmos a nu. Desejamos que fosse tudo uma questão de poesia, pois essa não se engole se não for inteira: ou é poesia toda ou é nada. |
setembro 21, 2014
agosto 29, 2014
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©Ferdinando Scianna FRANCE, Paris- french researcher Jean Pierre VIGIER |
...ocorreu-me que não há equações difíceis, há-as apenas possíveis e impossíveis. E basta mudar um sinal, uma incógnita, um número para transformar uma na outra. Das possíveis, as que mais gosto são as indeterminadas, por admitirem infinitas soluções.
To put the world to rights?
I stay home forever
Where two and two always makes up five
I lay down the tracks
Sandbag and hide
January has april's showers
And two and two always makes up five
Its the devil's way now
There is no way out
You can scream it, you can shout
It is too late now
Because
You have not been paying attention
maio 27, 2014
PLAY Radiohead (Acoustic) Street Spirit
cantamos à boca cheia. ouvimos dizer que a infelicidade se cantada à boca cheia mingua. não entendemos a lógica. afinal não percebemos o quanto não gostamos de ser infelizes. esvaziamos a boca mas cantamos. no canto fingimos que a dor nos aflige. sabemos que nos consola e paramos de cantar, depois. rimo-nos da vida é bela. sabemos do punhado de beleza escondido na escuridão. a escuridão é nossa e o punhado de beleza também. sentimo-nos amaldiçoados pela magia do encontro. de olhos bem fechados e de costas voltadas fazemos figas pelo desencontro. provavelmente não sabemos como amar. sabemos que amar é ser simples. e choramos porque nos rimos, na simplicidade de estarmos e não sabermos o que somos, senão espíritos semi-livres, semi-aprisionados, na mesma borda de estrada. já não cantamos. não cantamos de boca cheia. não cantamos nem de boca vazia, porque não percebemos o quanto não gostamos de ser infelizes. murmuramos sempre em modo acústico, ao vivo, desprotegidos, sem rede, em cada encontro. e de costas voltadas continuamos a fazer figas pelo próximo desencontro.
"All these things we'll one day swallow whole
And fade out again and fade out again
Immerse your soul in love"
maio 03, 2014
profecia
PLAY radiohead · paranoid android
estranhei a ausência. pela primeira vez, em tempos que não sei determinar, mas vários, ele não se cruzou comigo hoje de manhã. será que o cão morreu?
se o cão não se cruzar comigo amanhã, amanhã ou amanhã, não poderei permanecer segura da sanidade que me resta. o mais certo é vir mesmo a enlouquecer, de uma vez.
o cão era louco. um louco mais louco a disfarçar a minha loucura.
a desordem de não me ter cruzado com o cão hoje já produziu efeitos. tudo o que sinto é tédio a correr nas veias. se o cão não se atravessar no meu caminho talvez a vontade seque de uma vez. e nem o Schopenhauer me poderá valer.
o esvoaçar da borboleta irá gerar o caos. eu sei. irei rebolar até secar e deixar de querer. e não mais a lógica da paixão será para o meu alcance, não mais.
se o cão não regressar, se o cão morreu serei desordem que endurece e se eterniza num corpo de vontades sem alma que o decore.
acho que o cão não irá voltar. acho que sequei a vontade. não há loucura que me reanime. não há cão que me acorde.
o cão morreu, e eu com ele, mesmo que o corpo insista em permanecer.
estranhei a ausência. pela primeira vez, em tempos que não sei determinar, mas vários, ele não se cruzou comigo hoje de manhã. será que o cão morreu?
se o cão não se cruzar comigo amanhã, amanhã ou amanhã, não poderei permanecer segura da sanidade que me resta. o mais certo é vir mesmo a enlouquecer, de uma vez.
o cão era louco. um louco mais louco a disfarçar a minha loucura.
a desordem de não me ter cruzado com o cão hoje já produziu efeitos. tudo o que sinto é tédio a correr nas veias. se o cão não se atravessar no meu caminho talvez a vontade seque de uma vez. e nem o Schopenhauer me poderá valer.
o esvoaçar da borboleta irá gerar o caos. eu sei. irei rebolar até secar e deixar de querer. e não mais a lógica da paixão será para o meu alcance, não mais.
se o cão não regressar, se o cão morreu serei desordem que endurece e se eterniza num corpo de vontades sem alma que o decore.
acho que o cão não irá voltar. acho que sequei a vontade. não há loucura que me reanime. não há cão que me acorde.
o cão morreu, e eu com ele, mesmo que o corpo insista em permanecer.