
© Elliott_Erwitt | Paris. 1998.

© Elliott_Erwitt | Paris. 1998.
|Assim repito o nome e sinto ainda o incêndio no rosto :|| paul celan |Porque é com nomes que alguém sabe | onde estar um corpo| por uma ideia, onde um pensamento | faz a vez da língua.| herberto helder
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© Elliott_Erwitt | Paris. 1998. |
Eu era lume sobre sede e tu procuravas dar-me a beber, gomo a gomo, laranja-cor-de-sangue de Simic. Demoravas repetidas vezes:
- A laranja parte-se em silêncio à entrada de noites fabulosas.
E eu ouvia cada sílaba, na cadência dos teus lábios secos. Não entendia. Sempre ouvira dizer que de manhã é ouro, à tarde prata mas que, à noite, a laranja mata. E era noite. Demasiadamente noite.
Desesperada, repeti, em fuga, baixo contínuo, o que me pareceu uma troca justa.
|| Um gomo por uma nota de Bach. Uma sílaba tua por uma nota de Bach:||
Tu recusaste. Disseste que eu não tinha a cabeça de vidro.
- Não és transparente e não se come laranja com a boca suja. Não distinguirias o doce da laranja do amargo da palavra. Nunca, para ti, o gomo secreto de Al Berto. Não és do lado de fora da cidade.
Ficámos em silêncio.
Impusemos a despedida.
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Hoje, ainda te oiço:
- Tu não tens como matar a sede.
Concordo. Nunca possuirei a transparência louca e ácida de quem compreende a laranja. Mas releio-me na "alta solidão que nem pode ser nossa de tão pura".
E eu sei que
não há sede que a palavra, nos teus lábios, não (me) mate.
©Elliott Erwitt | North Carolina | 1950 |
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©Elliot Erwitt | Ceremony for the crowning of the Shah | 1967 | Teheran
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©Elliott_Erwitt | ENGLAND. Brighton | 1970 |
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©Elliott Erwitt | 1950 |
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©Elliott Erwitt SPAIN. Madrid. 1995. Prado Museum. |
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©Elliott Erwitt NICARAGUA. Managua. 1957 quando P A R E C E R não rima com S E R |
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©Elliott Erwitt. ITALY. Rome. 2008 |
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©Elliott Erwitt |
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©Elliott Erwitt PLAY L'Arpeggiata, Music for a While - Oedipus, King of Thebes
"Music for a while
Shall all your cares beguile.
Wond'ring how your pains were eased
And disdaining to be pleas'd
Till Alecto free the dead
From their eternal bands,
Till the snakes drop from her head,
And the whip from out her hands."
Henry Purcell, John Dryden, Nathaniel Lee
As mães só sabem jogar à cabra cega. E sem venda, ou olhos fechados. De olhos abertos já nada veem. Depois do jogo, calçam luvas para dar colo aos filhos e, quando o esvaziam, colocam-nas a arejar, penduram o cheiro da pele no arame. As mães não tiram as cobras das cabeças dos filhos porque não sabem tocar flauta ou encantar. Na hora do abraço, pesam-no, em gramas, o abraço é caro precisa de ser doseado. As mães marcam a hora das necessidades dos filhos, mas o amor, quando chega, é atrasado. |