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outubro 04, 2016

©raquelsav | Agosto 2016 | Santa Maria do Bouro
PLAY John Cage | In a landscape

Imagem atrás de imagem,
folhas de livro:
eu e tu nelas,
como paisagens
indefinidas.


abril 15, 2016

©Irving Penn | Photo of Igor Stravinsky | 1948
"Só as palavras rompem o silêncio, tudo o resto se calou. Se eu me calasse, não deixaria de ouvir fosse o que fosse. Mas, se eu me calasse, voltariam outros ruídos, os ruídos que as palavras não me deixam ouvir, ou que deixaram realmente de se ouvir. Mas calo-me, acontece, não, nunca, nem por um segundo. Também choro, sem parar. É uma torrente ininterrupta, de palavras e lágrimas. Tudo sem reflectir. Mas falo mais baixo, de ano para ano um pouco mais baixo. Talvez. Mais devagar também, de ano para ano mais devagar. Talvez, não dou conta. As pausas seriam portanto mais longas, entre as palavras, as frases, as sílabas, as lágrimas, confundo as palavras com as lágrimas, as minhas palavras são as minhas lágrimas, os meus olhos são a minha boca. E deveria ouvir, a cada breve pausa, se há silêncio como eu digo, ao dizer que só as palavras o rompem. Mas não, é sempre o mesmo murmúrio, fluido, sem hiato, como uma única palavra sem objectivo e portanto sem significado, porque é o objectivo que dá significado às palavras. Sendo assim, com que direito, não, desta vez sei onde quero chegar, e paro, dizendo, Nenhum, nenhum."

Samuel Beckett (1958) | Novelas e Textos para Nada | Assírio&Alvim | 2006

abril 04, 2016

PLAY John Cage | Dream

"(...) as pessoas habituam-se a exigir, mas não estão por isso preparadas para que os seus desejos se realizem. (...) o lado sério da questão é que esse absurdo é aquilo que devíamos exigir! E agora não fique a pensar que com isso quero apenas dizer que nos sentimos atraídos por aquilo que é dificilmente realizável, e que não damos importância àquilo que realmente podemos ter. O que quero dizer é que há na realidade um desejo absurdo do irreal.
- (...) As pessoas ficam imensamente felizes quando as não deixam concretizar as suas ideias!
- E o que faria o senhor meu primo- respondeu Diotima, irritada - se lhe entregassem por um dia o governo do mundo?
- Só teria uma saída: abolir a realidade." 
 
Robert Musil (1880-1942)
O Homem sem Qualidades, Dom Quixote, 2014 (4.ª Ed.)
(Trad. João Barrento)