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setembro 03, 2022

Lembra-me um sonho lindo

 

©raquelsav | 3 setembro 2022 | Parque da Bela Vista

“It’s your fucking birthday.”


dezembro 11, 2019

Dor boomerang

PLAY Nick Cave | Spinnin song

And I love you, and I love you, and I love you, and I love you
And I love you, and I love you, and I love you
Peace will come, and peace will come, and peace will come in time
Time will come, and time will come, a time will come for us
Peace will come, and peace will come, and peace will come in time
Time will come, and time will come, a time will come for us

outubro 13, 2018

Narração

©raquelsav | Carrasqueira | Setembro 2018

PLAY Nick Cave | Magneto

Este homem caminha a chorar
ninguém sabe dizer porquê
às vezes pensam que são amores perdidos
como aqueles que tanto nos atormentam
à beira-mar no verão com os gramofones.

A outra gente cuida dos seus trabalhos
papéis intermináveis crianças que crescem, mulheres 
com dificuldade em envelhecer
ele tem dois olhos como papoilas
como primaveris papoilas cortadas
e duas pequenas fontes na cavidade dos olhos.

Caminha pelas estradas nunca se deita
galgando pequenos quadrados no dorso da terra
máquina de um tormento infindo
o qual acabou por não ter importância.

Alguns outros ouviram-no falar
sozinho enquanto passava
de espelhos quebrados dentro dos espelhos
que já ninguém pode juntar.
Outros ouviram-no dizer do sono
imagens de horror no limiar do sono
rostos insuportáveis de ternura.

Habituámo-nos a ele bem arranjado e tranquilo
acontece apenas que caminha a chorar continuamente 
como os salgueiros à beira do rio que vês do comboio
quando acordas mal disposto numa alba cheia de nuvens.

Habituámo-nos a ele não representa nada
como todas as coisas às quais vocês se habituaram
e falo-vos dele porque não encontro
nada a que vocês não estejam habituados;
as minhas vénias. 

Yorgos Seferis | Poemas Escolhidos | Relógio D'Água | 1993

março 23, 2017

janeiro 09, 2016



Encenamos despedidas,
enquanto falamos por línguas de fogo,
línguas da boca para dentro,
exercícios extremos de lugar
ou tão somente de silêncio.

Insistimos nessa espécie de tempo falado,
um tempo oral das coisas que não se dizem,
subindo, como quem resvala,
por degraus que se afunilam,
inclinados sobre si.
Somos cada degrau
e o peso do desenho do pé,
a marca incerta que calca o chão morto.
Por isso, tocamos a pintura na (im)perfeição do traço,
entre pormenores fractais e borrões tolhidos,
carimbo rudimentar de tinta chinesa e permanente.

Construímos o tempo na senda dos pronomes interrogativos,
mas abolimos pontos de interrogação.
Somos o quê da matéria que não fala,
que habita muito acima do porquê,
razão pura de hierarquia.
Por isso,
enquanto falamos por línguas de fogo, 
comungamos do nosso tempo - 
como extensas vítimas do silêncio. 

maio 26, 2015

©Francesca Woodman
PLAY Nick Cave & Bad Seeds Stranger than Kindness
"Era um homem que banalizava o mundo para poder ser nele acolhido sem drama, que transformava o horror e a maldade em lugares-comuns, para não sentir remorsos. E, apesar do meu ódio, também eu o amava, porque a indiferença que ele introduzia na sua vida e na dos outros me dava uma paz intensa, por isso estava prestes a segui-lo numa viagem, numa deserção, ou num crime. Assim me tornava a cúmplice perfeita, colada aos seus passos, fascinada pela sua voz. Perto dele, as palavras regressavam com uma fluência mentirosa, como se tivéssemos voltado da morte e tudo pudesse ser dito. Todos os gestos pudessem ser feitos"

Rui Nunes,
Os Olhos de Himmler, Relógio d'Água, 2009