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agosto 12, 2015

Mapa de Desencontros

I
Abrigo-te
mais uma vez
há muito tempo
disseste aqui
hei-de morrer
voltas sempre 
a esta morada
ris-te e partes
no telhado frágil
caem as primeiras
águas de Inverno.

III
Olhamos o amor e a morte
desdobrando-se no tempo
nas rugas das suas estações
demasiado tempo mantemos
a ilusão de uma diferença
mas o tempo comprime-se
naquele momento breve
em que a nossa vontade
julga poder prescindir dele.

Carlos Alberto Machado (2000)
Registo Civil- poesia reunida. Assírio&Alvim, 2009
A Minha Mão Acariciando


Acabou tudo
o corpo na areia fria
retenho muito tempo a imagem
unem-se as vagas em assalto
final 
resisto.

V
Desloco para a tua retina
todos os pasmos do crime
impressionante não é tanto
o sangue que inunda a cama
o latejar do coração sob 
o punho que desfere o golpe
mortal é o pensamento
que dá a força ao acto
que destroça o cérebro
golpeia uma a uma as amarras
o teu corpo sob o meu amolece
e os teus olhos encerram
as imagens que não verei.

VI
A tua medida será esta bem sabes
uma hora nem mais é a medida exacta
o tempo que o antigo veneno celta
vai demorar a percorrer-te o corpo
há tanto tempo que sabemos disto
o espanto é adivinhar-te agradecida
e saber do meu gozo de cada segundo
dessa hora como a hora da minha morte.

Carlos Alberto Machado (2000)
Registo Civil- poesia reunida. Assírio&Alvim, 2009