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abril 08, 2016


Samuel Beckett em Berlim, 1969

"Hoje, temos motivos para supor que Samuel Beckett é o escritor por excelência, no qual outros autores dramáticos e outros romancistas descobrem o reflexo concentrado dos seus combates e privações. Monsieur Beckett é métier - até à última fibra do seu ser compacto e esquivo. Não há nele um único movimento perceptivelmente inútil, um único gesto de ostentação, uma única concessão - ou, pelo menos, concessão detectável - ao ruído das imprecisões do mundo."

George Steiner (1968)
Extraterritorial, Relógio D'Água, 2014

fevereiro 25, 2016


"Saber "de cor" - e que manancial de informação nesta locução - supõe a apropriação de qualquer coisa e o ser possuído pelo conteúdo do saber em questão. Quer isto dizer que autorizamos o mito, a prece ou o poema a virem implantar-se e florir no interior de nós mesmos, enriquecendo e modificando a nossa paisagem interior, tal como, por sua vez, cada uma das incursões através da vida modifica e enriquece a nossa existência. Aliás, para a filosofia e a estética antigas, a memória era a mãe das musas.
Quando a escrita levou a melhor e os livros facilitaram um tanto as coisas, a grande arte mnemónica caiu no esquecimento. A educação moderna cada vez se assemelha mais a uma amnésia institucionalizada. Deixa o espírito da criança vazio do peso das referências vividas. Substitui o saber de cor, que é também um saber de cor(ação), pelo caleidoscópio transitório dos saberes efémeros. Reduz o tempo ao instante e vai instilando em nós, até enquanto sonhamos, uma amálgama de heterogeneidade e de preguiça. Podemos afirmar que tudo o que não aprendemos e não sabemos de cor - dentro dos limites das nossas faculdades sempre imprecisas - é aquilo de que verdadeiramente não gostámos. As palavras de Robert Graves mais não fazem do que dizer que "amar de cor(ação)" ultrapassa muito qualquer "amor pela arte". Saber de cor é entrar em estreita e activa relação com a essência daquilo que somos. "
George Steiner (2005)
O silêncio dos Livros, Gradiva, 2007