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fevereiro 28, 2015

©Elliott Erwitt

Saíam olhos pela boca e ouvidos pelas mãos. Quando falava, via o mundo acontecer-lhe. Em cada palmo era o som das esferas que tacteava. O mundo, esse mistério impróprio para consumo, absorvia-o pelos sentidos. Mas era vê-lo, ao mundo, em cada movimento seu. Como se o dia rompesse na aurora da roda dos seus passos e os anos passassem, de solstício em equinócio, na translação dos seus sentidos. Vê-lo mover-se não era diferente de entender o sentido universal dos movimentos gerais e particulares.

Os sorrisos eram, no entanto, desorganizados, anacrónicos e etéreos, aconteciam reproduzindo um sem-dono ou, simplesmente, um roubo. Os sorrisos denunciavam auroras passadas, recordações quiméricas do Dia da Inocência- mas nunca desistia deles, ou eles dele- porque os sorrisos eram uma espécie de casa-abrigo em órbita.

A sua ética substantiva subjugava-se a adjectivos com diploma de máxima qualificação. Ou seja, não podia dizer-se que devia amor ao mundo, ou compaixão, ou força centrípeta de qualquer satélite celular. A sua ordem era a do mundo e a da sombra do mundo, autenticada em cada movimento seu, (de)composto em tangentes de importância jugular.

Um dia o mundo quis ser solísticio e ele passou a existir na sombra de um amanhecer. Foi o dia em que se fez maior.
     
 PLAY Jorge Lima Barreto Solstice II