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julho 31, 2015

    "A sala grande tinha sido transformada num salão de baile, uma discoteca luminosa, o oposto da outra onde ele a levara para ver, e ela odiara a intermitência de brutas luzes e brutas trevas, gente que dançava como marionetas a estrebuchar sem bonecreiro, sem graça e sem vida, gente que dançava mal, braços, pernas e troncos e alma sem acordo ao ritmo, debaixo de um globo de estilhaços de espelho, sem estar em si, sem entrega, a serem visto estar. Estilhaços. Sem o rilhar dos dentes do prazer, do prazer profundo: nadar, dançar, a sós, com o outro, com o mundo. Vanidade e profundeza dos sentidos em diapasão. Com o ritmo. De quê? De quem?
    Tento pensar e não chego a lado nenhum, não tenho com quê. Sou burra?
    Dissera ela a Gabriel, num serão muito aprazivelmente silencioso.
    - Welcome to the club, dissera ele a rir. Mas sabes pôr-te no que estás, Kate. Nunca terás vergonha de uma sensualidade pobre, falsa. Acredita que há gente assim, geralmente escondida num palavreado muito esperto, muito penado, num corpo morto. Não somos burros, somos bárbaros. O burro é um animal civilizado."

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    "- Vermelho e preto, darling, que boa escolha, my far lady.
    Myra sentiu-se ultrajada.
    Pensou, sentido. Disse.
    - Sou russa. Levantámos o mundo com a alavanca do bico da foice e os dentes do martelo. Tem de me receber com algo tão corriqueiro?"

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    "No andar de cima, ouviam-se agora os acordes jubilosos da Gosse Messe, Et incarnatus est [PLAY].
     Rambo disse, Detesto música, embota o ouvido de um cão. 
   És um rústico, disse Brunilde, um básico. Eles põem música para que os gritos que se seguem, gritos dela, berros dele, sejam ainda mais ferozes, para toda a vida.

Maria Velho da Costa
Myra,  Assírio&Alvim, 2008