Mostrar mensagens com a etiqueta #Michel Foucault. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta #Michel Foucault. Mostrar todas as mensagens

dezembro 21, 2014

Michel Foucault

"Daí, sem dúvida, que a poesia se encontre frente a frente com a loucura, na cultura ocidental moderna. Mas já não se trata do velho tema platónico do delírio inspirado. É a marca de uma nova experiência da linguagem e das coisas. Nas margens de um saber que separa os seres, os signos e as similitudes, e como que para limitar o seu poder, o louco assegura a função de homossemantismo: reúne todos os signos e confere-lhe uma semelhança que não cessa de proliferar. O poeta assegura a função inversa, a alegórica; sob a linguagem dos signos e sob o jogo das suas distinções bem demarcadas, põe-se à escuta da "outra linguagem", a da semelhança, essa linguagem sem palavras e sem discurso. O poeta faz vir a similitude até aos signos que a dizem; o louco carrega todos os signos de uma semelhança que acaba por apagá-los. Assim se encontram ambos, na orla exterior da nossa cultura e no ponto mais próximo das suas divisões essenciais, nessa situação extrema - postura marginal e silhueta profundamente arcaica - em que as palavras encontram sem cessar o seu poder de estranheza e o recurso da sua contestação. Entre elas abriu-se o espaço de um saber onde, devido a uma ruptura essencial ocorrida no Ocidente, já não se trata das similitudes, mas sim das entidades e das diferenças."

Michel Foucault, As palavras e as coisas, Edições 70