Mostrar mensagens com a etiqueta #Ulla_Hahn. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta #Ulla_Hahn. Mostrar todas as mensagens

junho 02, 2016

Passado a limpo
Foi-se a esperança
de que pudesse ser minha outra coisa
além da secretária em que 
a vida se transforma em papel

Assim discretamente a mão faz
perder tudo o que é real
Inscrevo, desescrevo, circunscrevo-
-te até seres só pó de escrita.

Abgetippt
Die Hoffnung ist vorbei
etwas anderes könnte mein sein
als ein Schreibtisch an dem sich
das Leben verwandelt in Papier

So unter der Hand geht alles
verloren was wirklich ist
Ich schreib dich ein und aus und um
bis du zerschrieben bist.
        
Ulla Hahn (1988) | A sede entre os limites| Relógio D'Água | 1992 |Trad. João Barrento
Residência 
Queres viver comigo onde
as nuvens lançam raízes e o 
número de mortos é certo para sempre
nunca nenhuma casa lá se ergueu.  

Vorgeschrieben
Wohnen willst du mit mir da
wo die Wolken wurzeln und die
Zahl der Toten fest steht für immer
stand da noch nie ein Haus  
        
Ulla Hahn (1988) | A sede entre os limites | Relógio D'Água | 1992 |Trad. João Barrento

junho 01, 2016


©Cartier Bresson | Srinagar, Kashmir | 1948
Auf Erden
Gelassen schau ich diesen Himmel an.
Natur. Natürlich fallen mir Vergleiche ein.
Ein Alpenveilchentöpfchen könnt es sein
was hochhinaus am Horizont erglüht.

Es ist mir trotzdem kalt. Die Wiesen weiß
vereist. Die Sonne schwach. Auf Autodach
fiel Schnee und auf die Felder fallen
strenge Metaphern ohne Reim herein.

Die Krähen schrein. Natürlich ziehn
sie schwirren Flugs zur Stadt. Wer
keine Heimat hat schaut sich
den Himmel an.   

 Nesta Terra

Serena olho para este céu. Natureza.
Naturalmente as comparações vão ocorrer.
Um vaso de violetas dos Alpes podia ser
aquilo que se ergue em fogo no horizonte.

Apesar disso tenho frio. Os prados brancos
gelados. O sol fraco. No tejadilho do carro
caiu neve e sobre os campos caem
rigorosas metáforas sem rima.

As gralhas gritam. Naturalmente voam
em voo vibrante para a cidade. Quem
não tem pátria olha
para o céu.
     
Ulla Hahn (1988) | A sede entre os limites| Relógio D'Água | 1992 |Trad. João Barrento
Vorgeschrieben
Diese Sehnsucht
dich beim Namen zu nennen
Diese Angst
dich beim Namen zu nennen

Diese Sehnsucht
Wort zu halten
Diese Angst
nur Wort zu halten

Diese Sehnsucht nach einem Leben
das kein Gedicht wird
Diese Angst vor einem Gedicht
das ein Leben vorwegnimmt.

Pre-scrita
Esta saudade
de te chamar pelo nome
Este receio
de te chamar pelo nome

Esta saudade
de manter a palavra
Este receio
de apenas manter a palavra

Esta saudade de um vida
que não dê em poema
Este receio de um poema
que antecipe uma vida.
        
Ulla Hahn (1988) | A sede entre os limites| Relógio D'Água | 1992 |Trad. João Barrento