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abril 18, 2015

PLAY Encontro entre Steiner e António Lobo Antunes

"L.A.: Sabe, é talvez demasiado íntimo falar disto, mas o suicídio é uma coisa que está sempre em mim desde tenra idade. Tive uma série de doenças gravísssimas, em criança, mas sempre houve uma grande tendência auto-destrutiva em mim. Será que eu o podia ter impedido, será que eu o podia ter adivinhado? É o desejo de escrever. A sensação, muito estranha, que não posso explicar de forma racional: eu tenho de escrever, deram-me isto e devo transmiti-lo, não me pertence. E isto sempre me salvou da morte e das ideais de auto-destruição que são constantes em mim, sobretudo entre dois livros, como agora, em que tudo me parece desprovido de sentido.

S.: Hegel, que podia ser muito mau, como todos os grandes pensadores, tinha a seguinte piada: "Por que é que o judeu nunca se mata? Porque quer ler o jornal do dia seguinte." Isto é muito profundo. Já passei por momentos, como todo o ser humano, de terrível depressão: o sentido da mediocridade, a grande decepção, queria ter sido como você, escritor e não um crítico, não um professor. Vivi momentos muito negros, mas, de facto, sempre quis ler o jornal do dia. Sou um apaixonado pela realidade, pelo movimento da realidade, pelo élan, como diria Bergson, o élan da duração. Ora, matar-me significaria não mais ler o jornal. E isso é muito..."