Mostrar mensagens com a etiqueta #Rainer_Maria_Rilke. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta #Rainer_Maria_Rilke. Mostrar todas as mensagens

junho 26, 2016

17.
Pois a pobreza é um grande clarão que vem do interior...

Denn Armut ist ein großer Glanz aus Innen....

Rainer Maria Rilke (1903 |  O Livro de Horas (O livro da pobreza e da morte) | Assírio&Alvim | 2009 | Trad. M. T. Dias Furtado

junho 15, 2016

20

A minha vida não é esta hora inclinada
em que a apressar-me vês.
Sou uma árvore sobre o meu fundo desenhada
sou apenas uma das minhas bocas já calada
quando chegada foi a sua vez.

Sou silêncio que entre dois sons circula
que um ao outro mal se habituam
pois o som da morte quer levantar-se...

Mas nesse sombrio intervalo vêm reconciliar-se
ambos a tremer.
                E a canção a embelezar-se.

Mein Leben ist nicht diese steile Stunde
darin du mich so eilen siehst.
Ich bin ein Baum vor meinem Hintergtude,
ich bin nur einer meiner vielen Munde
und jener, welcher sich am frühsten schließt.

Ich bin die Ruhe zwischen zweien Tönen,
die sich nur schlecht aneinander gewöhnen:
denn der Ton Tod wil sich erhöhn -

Aber im dunklen Intervall versöhnen
sich beide zitternd.
                Und das Lied bleibt schön.

Rainer Maria Rilke (1875 -1926) |  O Livro de Horas | Assírio&Alvim | 2009 | Trad. M. T. Dias Furtado

junho 08, 2016


7
Se ao menos uma vez tudo fosse silêncio de improviso.
Se o acidental e o impreciso
emudecessem e o riso ao lado,
se o ruído aos meus sentidos habituado,
não me perturbasse tanto o estar acordado:

então poderia em múltiplo pensamento
pensar-te até ao extremo do teu isolamento
e possuir-te (apenas enquanto um sorriso dura),
para te ofertar a toda a viva criatura
como agradecimento.

Wenn es nur einmal so ganz stille wäre.
Wenn das Zufällige und Ungefähre
verstummte und das nachbarliche Lachen,
wenn das Geräusch, das meine Sinne machen,
mich nicht so sehr verhinderte am Wachen -:

Dann könnte ich in einem tausendfachen
Gedanken bis an deinen Rand dich denken
und dich besitzen (nur ein Lächeln lang),
um dich an alles Leben zu verchenken
wie einen Dank.       

Rainer Maria Rilke (1875 -1926) |  O Livro de Horas | Assírio&Alvim | 2009 | Trad. M. T. Dias Furtado

junho 02, 2016

©Auguste Rodin
Oh, não me eleves!
Quem sabe se me ergo.
Levanta apenas ao de leve o rosto
Para que, chovendo eu,
Quase te pareçam lágrimas tuas.

Se te assolar a minha tempestade,
coloca-te, direita, frente ao meu vento;
fecha as pálpebras ao meu sopro,
fica cega
desse simples ver-me

Oh erhöhe mich nicht!
Wer weiß, ob ich rag.
Heb nur leise dein Angesicht,
daß dir mein Niederschlag
fast wie dein eigenes Weinen sei.
Stürmt meine Stärke an dir vorbei,
stelle dich aufrecht in meinen Wind;
schließe die Lider vor meinem Wehn,
sei blind
vor lauter Mich-sehn.

Rainer Maria Rilke & Auguste Rodin | Momentos de Paixão | Relógio D'Água | 2004 | Trad. José Miranda Justo

maio 27, 2016

15
Com o suspiro da amiga,
a noite inteira estremece 
porque uma carícia breve
percorre o céu deslumbrado.

Tal como se no Universo
uma força primitiva
voltasse a querer ser mãe
de todo o amor que se perde.      

Rainer Maria Rilke (1875 -1926) | Frutos e apontamentos | Relógio D'Água | 1996 | Trad. M. Gabriela Llansol

maio 25, 2016

42
Esta tarde, um nada passa no ar
que me faz baixar a cabeça;
quereríamos rezar pelos prisioneiros,
pela sua vida suspensa.
E ficamos a cismar nas vidas que não atam nem desatam...

Na vida que não se inclina para a morte,
e de onde o futuro se ausentou;
em que é preciso ser inutilmente forte,
e triste, inutilmente.

Em que todos os dias são espezinhados no mesmo lugar,
em que todas as noites descem ao abismo,
em que a consciência da cena fulgor da infância
o profundamente se distancia

que o nosso coração apagado não pode conceber uma criança.
Não é que a vida seja hostil;
é que se lhe mente -
isolados no bloco de um destino imóvel.      

Rainer Maria Rilke (1875 -1926) | Frutos e apontamentos | Relógio D'Água | 1996 | Trad. M. Gabriela Llansol
1
Meu coração, esta noite, fez dos anjos
cantores que se recordam...
Uma voz, quase integralmente sobreposta à minha,
atraída por este excesso de silêncio,

eleva-se e decide
nunca mais voltar à minha;
dulcíssima e intrépida,
com quem se vai ela encontrar?

Rainer Maria Rilke (1875 -1926) | Frutos e apontamentos | Relógio D'Água | 1996 | Trad. M. Gabriela Llansol