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Esta tarde, um nada passa no ar
que me faz baixar a cabeça;
quereríamos rezar pelos prisioneiros,
pela sua vida suspensa.
E ficamos a cismar nas vidas que não atam nem desatam...
Na vida que não se inclina para a morte,
e de onde o futuro se ausentou;
em que é preciso ser inutilmente forte,
e triste, inutilmente.
Em que todos os dias são espezinhados no mesmo lugar,
em que todas as noites descem ao abismo,
em que a consciência da cena fulgor da infância
tão profundamente se distancia
que o nosso coração apagado não pode conceber uma criança.
Não é que a vida seja hostil;
é que se lhe mente -
isolados no bloco de um destino imóvel.
Rainer Maria Rilke (1875 -1926) | Frutos e apontamentos | Relógio D'Água | 1996 | Trad. M. Gabriela Llansol
Esta tarde, um nada passa no ar
que me faz baixar a cabeça;
quereríamos rezar pelos prisioneiros,
pela sua vida suspensa.
E ficamos a cismar nas vidas que não atam nem desatam...
Na vida que não se inclina para a morte,
e de onde o futuro se ausentou;
em que é preciso ser inutilmente forte,
e triste, inutilmente.
Em que todos os dias são espezinhados no mesmo lugar,
em que todas as noites descem ao abismo,
em que a consciência da cena fulgor da infância
tão profundamente se distancia
que o nosso coração apagado não pode conceber uma criança.
Não é que a vida seja hostil;
é que se lhe mente -
isolados no bloco de um destino imóvel.
Rainer Maria Rilke (1875 -1926) | Frutos e apontamentos | Relógio D'Água | 1996 | Trad. M. Gabriela Llansol