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© Elliott_Erwitt | Paris. 1998.
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© Elliott_Erwitt | Paris. 1998.
|Assim repito o nome e sinto ainda o incêndio no rosto :|| paul celan |Porque é com nomes que alguém sabe | onde estar um corpo| por uma ideia, onde um pensamento | faz a vez da língua.| herberto helder
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© Elliott_Erwitt | Paris. 1998. |
Eu era lume sobre sede e tu procuravas dar-me a beber, gomo a gomo, laranja-cor-de-sangue de Simic. Demoravas repetidas vezes:
- A laranja parte-se em silêncio à entrada de noites fabulosas.
E eu ouvia cada sílaba, na cadência dos teus lábios secos. Não entendia. Sempre ouvira dizer que de manhã é ouro, à tarde prata mas que, à noite, a laranja mata. E era noite. Demasiadamente noite.
Desesperada, repeti, em fuga, baixo contínuo, o que me pareceu uma troca justa.
|| Um gomo por uma nota de Bach. Uma sílaba tua por uma nota de Bach:||
Tu recusaste. Disseste que eu não tinha a cabeça de vidro.
- Não és transparente e não se come laranja com a boca suja. Não distinguirias o doce da laranja do amargo da palavra. Nunca, para ti, o gomo secreto de Al Berto. Não és do lado de fora da cidade.
Ficámos em silêncio.
Impusemos a despedida.
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Hoje, ainda te oiço:
- Tu não tens como matar a sede.
Concordo. Nunca possuirei a transparência louca e ácida de quem compreende a laranja. Mas releio-me na "alta solidão que nem pode ser nossa de tão pura".
E eu sei que
não há sede que a palavra, nos teus lábios, não (me) mate.
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©Mark Freedom |
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©Antoine d’Agata: Untitled, from the series Inédites, Georgia, 2009 |