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dezembro 29, 2015


"o meu tédio é igual, o meu desejo de solidão idêntico, a minha ânsia de silêncio a mesma, quero simultaneamente que me deixem em paz e não me deixem em paz, que me amem e não me amem, que me chamem e me esqueçam"

António Lobo Antunes (1983)
Explicação dos pássaros

dezembro 23, 2015

"Vou-me embora, adeus, ou fico, qual é a alternativa, ir para onde, serei mais feliz sozinho, conseguirei alguma vez ser feliz com esta inquietação de sempre nas tripas, esta espécie de colite da alma, este desassossego de entranhas, rodo o botão do som, a adesão de Portugal ao Mercado Comum, torno a calá-lo, as lombadas dos livros irritam-me, o sofá demasiado fofo irrita-me, vou à janela espreitar a tranquilidade da rua, os carros imóveis sob os candeeiros, a pele lunar dos prédios, como farão os outros para aguentar a pastilha, os casais que conheço viverão intimamente satisfeitos consigo, lograrão lavar os dentes de manhã numa esperança relativa, qual é a solução quando nada mais há a conhecer, a descobrir, a inventar, foram quatro anos muito agradáveis, desculpa, mas acho melhor separarmo-nos, e a tua cara, de tacho na mão, boquiaberta de espanto, primeiro, a enrugar-se de dúvida, de incredulidade, depois, Deves ter bebido diz ela, Não bebi nada digo eu. De qualquer maneira guarda a conversa para logo que não tenho pachorra agora, diz ela."

António Lobo Antunes (1983)
Explicação dos pássaros

abril 18, 2015

PLAY Encontro entre Steiner e António Lobo Antunes

"L.A.: Sabe, é talvez demasiado íntimo falar disto, mas o suicídio é uma coisa que está sempre em mim desde tenra idade. Tive uma série de doenças gravísssimas, em criança, mas sempre houve uma grande tendência auto-destrutiva em mim. Será que eu o podia ter impedido, será que eu o podia ter adivinhado? É o desejo de escrever. A sensação, muito estranha, que não posso explicar de forma racional: eu tenho de escrever, deram-me isto e devo transmiti-lo, não me pertence. E isto sempre me salvou da morte e das ideais de auto-destruição que são constantes em mim, sobretudo entre dois livros, como agora, em que tudo me parece desprovido de sentido.

S.: Hegel, que podia ser muito mau, como todos os grandes pensadores, tinha a seguinte piada: "Por que é que o judeu nunca se mata? Porque quer ler o jornal do dia seguinte." Isto é muito profundo. Já passei por momentos, como todo o ser humano, de terrível depressão: o sentido da mediocridade, a grande decepção, queria ter sido como você, escritor e não um crítico, não um professor. Vivi momentos muito negros, mas, de facto, sempre quis ler o jornal do dia. Sou um apaixonado pela realidade, pelo movimento da realidade, pelo élan, como diria Bergson, o élan da duração. Ora, matar-me significaria não mais ler o jornal. E isso é muito..."