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abril 28, 2015


©Ferdinando Scianna. ITALY. Sicily. Province of Messina. Capizzi. 1982
INFÂNCIA
I
Terra
sem uma gota 
de céu.


II
Tão pequenas
a infância, a terra.
Com tão pouco
mistério.

Chamo às estrelas
rosas.

E a terra, a infância
crescem
no seu jardim 
aéreo.


III
Transmutação
do sol em oiro.

Cai em gotas,
das folhas,
a manhã deslumbrada.


IV
Chamo
a cada ramo
de árvore
uma asa.

E as árvores voam.

Mas tornam-se mais fundas
as raízes da casa,
mais densa
a terra sobre a infância.

É o outro lado
da magia.


E a nuvem
no céu há tantas horas,
água suspensa
porque eu quis,
desmorona-se e cai.

Caem com ela
as árvores voadoras.


VI
Céu
sem uma gota
de terra.


Carlos de Oliveira
Trabalho Poético, 2003, Assírio& Alvim

abril 01, 2015

©Ferdinando Scianna. LEBANON. Beirut. Civil war. Christian militian. 1976
bem bem existe um país
em que o esquecimento em que pesa o esquecimento
lentamente nos mundos inominados
aí a cabeça aquietamo-la a cabeça está calada
e sabemos não nada sabemos
o canto das bocas mortas morre
no areal fez a viagem
não há nada para chorar

a minha solidão conheço-a vamos lá conheço-a mal
tenho tempo vou achando que tenho tempo de vida
mas que tempo osso faminto a vida do cão
do céu que assola incessante o meu vão de céu
do raio que trepa ocelado fremente
dos mícrons dos anos trevas

querem que vá de A para B não posso
não posso sair estou numa terra sem rastos
sim sim é uma coisa bonita que aí tem uma coisa bem bonita
o que é não me façam mais perguntas
espiral poeira de instantes o que é isso o mesmo
a calma o amor o ódio a calma a calma

Samuel Beckett (Trad. Filipe Jarro)
Rosa do Mundo - 2001 Poemas para o Futuro, 2001, Assírio&Alvim

fevereiro 20, 2015

©Ferdinando Scianna. ITALY, Milan- Calla
"Oh Deusa, tu és impecável: e, quando eu escorregue num tapete estendido, ou me estale uma correia da sandália, não te posso gritar, como os homens mortais gritam às esposas mortais: - Foi culpa tua, mulher! – erguendo, em frente à lareira, um alarido cruel! Por isso sofrerei, num espírito paciente, todos os males com que os Deuses me assaltem no sombrio mar, para voltar a uma humana Penélope, que eu mande, e console, e repreenda, e acuse, e contrarie, e ensine, e humilhe, e deslumbre, e por isso ame dum amor que constantemente se alimenta desses modos ondeantes, como o lume se nutre dos ventos contrários! 
(...)
- Quantos males te esperam, ó desgraçado! Antes ficasses, para toda a imortalidade, na minha Ilha perfeita, entre os meus braços perfeitos…
Ulisses recuou, com um brado magnífico:
- Oh Deusa, o irreparável e supremo mal está na tua perfeição!
E, através da vaga, fugiu, trepou sofregamente à jangada, soltou a vela, fendeu o mar, partiu para os trabalhos, para as tormentas, para as misérias – para a delícia das coisas imperfeitas!”


Eça de Queirós, Contos (A Perfeição). Porto Editora

agosto 29, 2014

©Ferdinando Scianna FRANCE, Paris- french researcher Jean Pierre VIGIER


...ocorreu-me que não há equações difíceis, há-as apenas possíveis e impossíveis. E basta mudar um sinal, uma incógnita, um número para transformar uma na outra. Das possíveis, as que mais gosto são as indeterminadas, por admitirem infinitas soluções.


Are you such a dreamer
To put the world to rights?
I stay home forever
Where two and two always makes up five

I lay down the tracks
Sandbag and hide
January has april's showers
And two and two always makes up five

Its the devil's way now
There is no way out
You can scream it, you can shout
It is too late now

Because

You have not been paying attention