Mostrar mensagens com a etiqueta #Thomas_Mann. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta #Thomas_Mann. Mostrar todas as mensagens

fevereiro 17, 2017

 
"Pois é, gentlemen, esta nossa maldita libido!-disse. - É claro que os senhores ainda tiram o vosso partido destas coisas, ainda as acham divertidas. Vesicular. Mas um chefe de sanatório como eu está farto de tudo isto, disso podem os senhores... Som abafado... disso podem os senhores ter certeza. Que culpa tenho eu que a tísica atraia uma certa concupiscência? Sopro ligeiramente rouco? Não fui eu quem dispôs as coisas desta maneira, mas enquanto o diabo esfrega um olho, já uma pessoa se vê à frente de uma casa de prazer. Menos audível debaixo da axila esquerda. Temos a análise, temos o aconselhamento psicológico - mas qual quê! Quanto mais esta malta desabafa, mais lasciva fica. Eu defendo a matemática. Aqui está melhor, o som desapareceu. O estudo da matemática, digo eu, é o melhor remédio para a cupidez. O procurador Paravant, que andava muito atacado por essa doença, dedicou-se à matemática, ocupando-se de momento da quadratura do círculo, o que lhe traz grande alívio. Mas a maior parte é demasiado estúpida ou preguiçosa para seguir o conselho, Deus lhes perdoe. Vesicular. Vejam, eu sei perfeitamente que a juventude aqui não tem muita dificuldade em se deixar corromper e depravar. "

Thomas Mann (1924) | A montanha mágica | Dom Quixote | 2009

fevereiro 13, 2017

"- (...) Queres dizer com isso dizer que ele é pedante? Achas que nós, alemães, somos todos pedantes- nós, alemães?
- Era do seu primo que estávamos a falar. Mas é verdade, vocês são um pouco burgueses. Amam mais a ordem do que a liberdade, toda a Europa sabe disso."

Thomas Mann (1924) | A montanha mágica | Dom Quixote | 2009
"- Então voltarás?
- Isso fica em aberto. E quando, é outra incógnita. Quanto a mim, sabes, amo a liberdade acima de todas as coisas, em particular a liberdade de escolher o meu domicílio. Tu não podes compreender o que significa estar obcecado pela independência. Talvez seja um traço da minha raça, não sei.
- E o teu marido em Daghestan concede-ta- a tua liberdade?
- Ela é-me dada pela doença. É a terceira vez que me encontro neste lugar. Desta vez, passei um ano aqui. É possível que volte um dia. Mas nessa altura tu já terás partido há muito tempo. "

Thomas Mann (1924) | A montanha mágica | Dom Quixote | 2009

dezembro 30, 2016

©raquelsav | Tapada de Mafra | Dezembro 2016
"Mas será possível ser-se soberano espiritual de determinada força e ao mesmo tempo seu escravo? Poderá o servo libertar?"

Thomas Mann (1924) | A montanha mágica | Dom Quixote | 2009

dezembro 20, 2016

"Que felicidade sentirmo-nos irritados e sermos forçados a amar ao mesmo tempo..."

Thomas Mann (1924) | A montanha mágica | Dom Quixote | 2009

novembro 16, 2016

"Excurso sobre o sentido do tempo"
Quando voltaram a subir ao quarto, depois do almoço, já o embrulho com as mantas se encontrava sobre uma cadeira, nos aposentos de Hans Castorp. E, nesse dia, o jovem serviu-se delas pela primeira vez - o primo, iniciado na matéria, ensinou-lhes a arte de se embrulhar, uma arte que todos ali em cima dominavam e que qualquer novato tinha de a aprender sem demora. As mantas eram estendidas, uma após a outra, sobre a cadeira de repouso, de modo a que uma boa parte delas ficasse caída sobre o chão, ao nível dos pés. Nessa altura, a pessoa sentava-se e começava a tapar-se com o cobertor de cima: primeiro puxando o cobertor a todo o comprimento até às axilas, seguidamente cobrindo os pés, o que exigia que a pessoa se curvasse e apanhasse as duas pontas dobradas, para repetir depois o processo pelo lado oposto, sendo que um embrulho perfeitamente liso e uniforme requeria que as duas pontas inferiores das mantas ficassem bem presas no rebordo da cadeira. A seguir, o mesmo método era aplicado exactamente à manta de baixo - o que implicava uma destreza algo maior e Hans Castorp, como principiante e desajeitado que era, suou e gemeu bastante, curvando e esticando o corpo uma e outra vez, à medida que ia ensaiando os movimentos que o primo lhe ensinava. Apenas meia dúzia de veteranos, explicava Joachim, eram capazes de embrulhar o corpo com as duas mantas ao mesmo tempo, aplicando três movimentos simples e certeiros. Tratava-se, porém, de uma perícia insólita e cobiçada que exigia não só longos anos de prática como também uma predisposição natural."

Thomas Mann (1924) | A montanha mágica | Dom Quixote | 2009