|Assim repito o nome e sinto ainda o incêndio no rosto :|| paul celan |Porque é com nomes que alguém sabe | onde estar um corpo| por uma ideia, onde um pensamento | faz a vez da língua.| herberto helder
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outubro 22, 2016
Mantra combate (que rima)
PLAY Linda Martini | Amor Combate
Vou escrever-nos no livro das memórias grandes,
lançá-lo aos elementos,
para não mais abrir.
Entre pó e tempestades, engrandecê-lo na idade,
perfeito e eterno
como exemplo a não seguir.
Quando no gume da liça:
- Amor ou Liberdade?
Grito de pulmão cheio:
- Liberdade, meu senhor!
E (em)quanto vivo o nome, não importa qual,
respirarei, em obra ressuscitada,
tão perfeitamente inacabada.
Vou escrever-nos no livro das memórias grandes,
lançá-lo aos elementos,
para não mais abrir.
Entre pó e tempestades, engrandecê-lo na idade,
perfeito e eterno
como exemplo a não seguir.
Quando no gume da liça:
- Amor ou Liberdade?
Grito de pulmão cheio:
- Liberdade, meu senhor!
E (em)quanto vivo o nome, não importa qual,
respirarei, em obra ressuscitada,
tão perfeitamente inacabada.
outubro 13, 2016
©raquelsav |
e sorrimos da ironia:
sabemos que só há vida para além do Inverno.
Sete arcos por nove de claustro:
nasce a ruína da pedra,
cresce o espaço, geograficamente estrangeiro.
Adormeço nesse simulacro jugular.
Sonho com o Inverno
e,
onde te adivinho, nasce a flor.
outubro 04, 2016
©raquelsav | Agosto 2016 | Santa Maria do Bouro |
Imagem atrás de imagem,
folhas de livro:
eu e tu nelas,
como paisagens
indefinidas.
outubro 01, 2016
Hoje é o teu dia, a tua noite. Quer dizer, para mim, todos os dias e todas as noites têm sido o teu dia. Desconfio que sempre assim será. Para quem segue as leis e celebrações, é mais cómodo e legítimo admiti-lo em data cíclica: e hoje é o teu dia, a tua noite, e sinto-os, tão irracionalmente, um pouco meus, também. Por isso celebro(te) nesta noite que inicia o dia, o teu.
janeiro 03, 2015
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©Patrick Zachmann CHILE. June, 1999. Atacama Desert. Along the Panamerican route n°5 between the towns of Arica and Huara |
fecho os olhos
e amo
de olhos fechados
nada me rouba desse lugar sem tempo
e sou
janeiro 02, 2015
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©Martine Franck.IRELAND. Donegal. Tory Island. 1995 |
PLAY Depeche Mode Enjoy the Silence
não engolir letras ao que conhecemos só de nome
não negar o nome à coisa
não esclarecer o inominável
subir e descer o indomável
domesticar o silêncio em nós e na coisa:
ser tentativa-erro até que a coisa aconteça em nós.
dezembro 29, 2014
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©raquelsav
PLAY Radiohead Street Spirit
Não é caso de mendigar faces e sorrisos só porque não é dia de lembrar à lua o esquecimento do sol. Não são os mares que são grandes, o que não sabemos é navegar. Em cada viagem, torna-se mais nítido o desassossego do passo desconjuntado: acertá-lo, deixá-lo à deriva, mudar de pernas, ...? Despimos o rosto-posto, na hora das indecisões, para as dizimarmos a nu. Desejamos que fosse tudo uma questão de poesia, pois essa não se engole se não for inteira: ou é poesia toda ou é nada. |
dezembro 26, 2014
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© Herbert List GERMANY. Hamburg. Krochmannstrasse. "Neighbors".
This photograph was taken from the window of List's flat.
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Não há como medir essa grandeza. No espelho- essa ilusão- somos maiores. Na sua ausência, somos vultos alheios, que não reconhecemos. De olhos bem fechados, somos fragmentos do tamanho do sonho. Não seremos justos enquanto não acordarmos desta insónia.
dezembro 24, 2014
Canto de Natal
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©HU - untitled, 2010 oil pastel and acrylic on cardboard 120x125 cm
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PLAY Cat Power Evolution
Fundimos os fantasmas do sonho- Passado, Presente e Futuro-
e inventamos novos tempos aos verbos.
Fechamos os olhos e repousamos em sinestesia,
sem hora mas com lugar...
(aquele lugar onde não envelhecemos:
o transfinito lugar que nos foi entregue para sermos autênticos)
dezembro 21, 2014
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©Herbert List GERMANY. Munich. 1953. |
PLAY Fever Ray Keep the streets empty for me
No relógio, asfixias as veias ao pulso, secas o tempo e a juventude da carne; anestesias o calendário nas intermitências de um corpo-abrigo; perdes-te em pronomes, para esconderes o desejo da cadência dos possessivos.
Os passos são desordenados, desgastam-te e não te compram caminhos fáceis. Os passos enchem a rua vazia, de possessivos rastos. A energia não se rende aos olhos fechados porque não tens como fugir, ao que subtilmente te foi entregue. Os passos são teus, mas desordenados.
E como um grito soa a tão pouco, quando só conheces armas de silêncio.
dezembro 13, 2014
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©Josef Koudelka. ISRAEL-PALESTINE. 2009 |
|| a vaidade
a euforia da conquista
a carne consumada
os corpos sós e vazios
o silêncio incómodo
a voz que trazes guardada
o silêncio que quebras
e a vaidade
e a carne consumada
e o silêncio incómodo
e a voz que ouves - sempre a voz-
e o mundo- mais um mundo-
sempre diferente
sempre imenso
sempre igual
sempre vazio
mais um copo
mais um corpo
mais um silêncio incómodo
e a voz que te lembra e que te esquece
e mais uma conquista, e mais uma euforia, e mais um regresso
mais um vazio :||
e a voz que fala dos mundos que não viste
e dos mundos que afinal são teus
e dos que não são
e dos que te fazem ser
e tão diferente
e tão só- tão orgulhosamente só-
e a casa que habitas:
sem paredes
sem tecto
sem chão
e o mundo que não existe senão nos olhos
e o mundo que não é senão um mundo
e peça por peça - o jogo da linguagem-
e a voz que não largas
e o que ela te diz:
de silêncio e de nada
e o abandono e o regresso e a espiral
[de sol&dão]
novembro 19, 2014
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©Antoine D'Agata |
(...)
Eu que me comovo
Por tudo e por nada
Deixei-te parada
Na berma da estrada
Usei o teu corpo
Paguei o teu preço
Esqueci o teu nome
Limpei-me com o lenço
Olhei-te a cintura
De pé no alcatrão
Levantei-te as saias
Deitei-te no banco
Num bosque de faias
De mala na mão
Nem sequer falaste
Nem sequer beijaste
Nem sequer gemeste
Mordeste, abraçaste
Quinhentos escudos
Foi o que disseste
Tinhas quinze anos
Dezasseis, dezassete
Cheiravas a mato
À sopa dos pobres
A infância sem quarto
A suor a chiclete
Saíste do carro
Alisando a blusa
Espiei da janela
Rosto de aguarela
Coxa em semifusa
Soltei o travão
Voltei para casa
De chaves na mão
Sobrancelha em asa
Disse: “fiz serão”
Ao filho e à mulher
Repeti a fruta
Acabei a ceia
Larguei o talher
Estendi-me na cama
De ouvido à escuta
E perna cruzada
Que de olhos em chama
Só tinha na ideia
Teu corpo parado
Na berma da estrada
Eu que me comovo
Por tudo e por nada
António Lobo Antunes
novembro 15, 2014
Entroncamento->LX©raquelsav |
Não tenho a cabeça cheia dessas frases, dos livros que não li, e duvido que entenda dessas coisas do amor. Não escrevo nas histórias que não vivi, nem nas entrelinhas, onde tudo me sabe a pouco. Mas ontem disseram-me: - Gosto de te ver assim. E eu fiquei a pensar: - E eu gostava de me ver, sim. Faz tempo que não me vejo. Foram tão raras as vezes que me vi. E hoje não te oiço: descobri que preciso de te ouvir para me ver. Tenho pena de não perceber dessas coisas do amor, porque o som infinito da concha murmura-me palavras pintadas de cor de rosa, que não sei distinguir. Mas eu cumpro o som da concha e guardo-o em uníssono para mim. Não há byte ou decibel que eu transgrida neste infinito que é não me ver. E torno transparentes as palavras, também. Sei que somos sós, porque sós é tudo o que sabemos ser. Aliás, é esse o mais que nos une. Despidos sabemos quem somos. Nus, ainda nos reconhecemos. Tenho medo: tudo me parece tão infinitamente pequeno e duvido que exista vida para além do vidro.
novembro 09, 2014
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Óbidos ©raquelsav |
Como quem acha que entende, virar o mundo e fazer de conta que encontra. E rente à história, que é um avesso, de arremesso, lançar três ou quatro armas, das que matam. Na resposta, o fogo posto que voa na chama. Esquecer, para arder no grito, como quem não fala, e virar a história, rente ao mundo, no avesso do rosto (de dia, sorriso posto). Fugir de quem se é, para somente voltar a ser: como que renascer, longe, noutro lugar.
novembro 01, 2014
©raquelsav.2014.Ponte.das.3.Entradas |
PLAY Ornatos Violeta Como Afundar
Há pessoas que encontramos nas palavras. Também sei que há palavras que são lugares. E fixam-se palavras e palavras e palavras, que se vão tornando lugares, das pessoas, em nós.
No silêncio do lugar, a denúncia da ausência de rituais. Na viagem, no intervalo das coisas, na não-palavra, na casualidade - o vazio maior.
Mas é a expectativa que torna tão longas as noites, os dias, e alheios os rumos da viagem. Porque a palavra, a verdadeira, sempre se revela na beleza das coisas que encontramos e a beleza, em defeito de partilha, adensa o vazio em nós.
Não tenho dúvida: quando a palavra não nasce mas renasce da memória, ainda que vazios, os lugares não deixam de o ser... porque há palavras que são a ponte entre nós e o outro lado da vida, quando um mundo só não basta.
"Eu senti o amor tocar no avesso da saudade
E com ela a dor de não chorar
(...)
A noite entrou de passagem
Sem nos levar
Boa viagem
Boa viagem
E é como afundar nosso mundo em dor
E não querer acordar
E tu não vês?"