maio 03, 2014

profecia

PLAY radiohead · paranoid android

estranhei a ausência. pela primeira vez, em tempos que não sei determinar, mas vários, ele não se cruzou comigo hoje de manhã. será que o cão morreu?

se o cão não se cruzar comigo amanhã, amanhã ou amanhã, não poderei permanecer segura da sanidade que me resta. o mais certo é vir mesmo a enlouquecer, de uma vez.
o cão era louco. um louco mais louco a disfarçar a minha loucura.

a desordem de não me ter cruzado com o cão hoje já produziu efeitos. tudo o que sinto é tédio a correr nas veias. se o cão não se atravessar no meu caminho talvez a vontade seque de uma vez. e nem o Schopenhauer me poderá valer.

o esvoaçar da borboleta irá gerar o caos. eu sei. irei rebolar até secar e deixar de querer. e não mais a lógica da paixão será para o meu alcance, não mais.

se o cão não regressar, se o cão morreu serei desordem que endurece e se eterniza num corpo de vontades sem alma que o decore.

acho que o cão não irá voltar. acho que sequei a vontade. não há loucura que me reanime. não há cão que me acorde.

o cão morreu, e eu com ele, mesmo que o corpo insista em permanecer.