julho 31, 2020

©raquelsav
Secámos a semente
que lançámos à terra,
em ato polinizador acidental.
Errámos na estação:
- quem colhe,
aguarda em silêncio pela flor.
Escolhe, com exactidão,
o segundo de semear.

Mas nós despimos do grão o tegumento
e, no estio dos dias longos,
a semente secou.
Não cuidámos da espera,
sucumbimos,
na ânsia de a ver florir.
Antes de eclodir, dormimos,
para, depois, morrer.
E assim morremos sempre,
a cada Primavera.



julho 30, 2020

NAS COSTAS DE UMA FOTOGRAFIA
Vou curvado, indeciso.
A outra mão tem três anos.
Uma mão de oitenta anos e uma de três anos.
Agarramo-nos. Com força, agarramo-nos.”
Pilinszky János | Antologia da Poesia Húngara| Âncora Editora

julho 28, 2020



Este homem que esperou
humilde em sua casa
que o sol lavasse a cara
ao seu desgosto

Este homem que esperou
à sombra duma árvore
mudar a direcção
ao seu pobre destino

Este homem que pensou
com uma pedra na mão
transformá-la num pão
transformá-la num beijo

Este homem que parou
no meio da sua vida
e se sentiu mais leve 
que a sua própria sombra

António Ramos Rosa (1960) | Antologia da novíssima poesia portuguesa | Círculo de poesia - Moraes Editores



julho 24, 2020


PLAY António Fragoso (1897-1918) | Prelúdio "Petite Suite"

13
explicar com palavras deste mundo
que partiu de mim um barco levando-me

Alejandra Pizarnik (1936-1972)
Antologia Poética, O correio dos Navios, 2002

julho 20, 2020