|Assim repito o nome e sinto ainda o incêndio no rosto :|| paul celan |Porque é com nomes que alguém sabe | onde estar um corpo| por uma ideia, onde um pensamento | faz a vez da língua.| herberto helder
setembro 30, 2016
setembro 09, 2016
Cesariana
No fim da tarde eu observo as abelhas
na sua telepatia intermitente.
Um cuco canta. As rãs, ao simples movimento
dos meus pés, saltam para dentro da água.
E a casa em frente alberga outros fantasmas
que se recusam ao meu imaginário.
Pergunto a esta paisagem pela minha paisagem.
Nenhuma voz interna aqui dilata o espaço
e vem chegando o vento.
Ouço-o cantar na folhagem em flor
das laranjeiras.
O homem está presente: a escada junto ao muro,
a terra bem tratada de um faval em flor
das laranjeiras.
O homem está presente: a escada junto ao muro,
a terra bem tratada de um faval ao longe.
Não posso aceitar esta solidão
que o céu, agora em concha, fechou
dentro do dia contra a natureza.
Esta casa repele a minha vida.
Com os olhos cheios de lágrimas,
aguardo que a memória apunhale a casa
e crie para mim outras moradas.
Armando Silva Carvalho | Sentimento dum Acidental | Contexto de Poesia | 1981
No fim da tarde eu observo as abelhas
na sua telepatia intermitente.
Um cuco canta. As rãs, ao simples movimento
dos meus pés, saltam para dentro da água.
E a casa em frente alberga outros fantasmas
que se recusam ao meu imaginário.
Pergunto a esta paisagem pela minha paisagem.
Nenhuma voz interna aqui dilata o espaço
e vem chegando o vento.
Ouço-o cantar na folhagem em flor
das laranjeiras.
O homem está presente: a escada junto ao muro,
a terra bem tratada de um faval em flor
das laranjeiras.
O homem está presente: a escada junto ao muro,
a terra bem tratada de um faval ao longe.
Não posso aceitar esta solidão
que o céu, agora em concha, fechou
dentro do dia contra a natureza.
Esta casa repele a minha vida.
Com os olhos cheios de lágrimas,
aguardo que a memória apunhale a casa
e crie para mim outras moradas.
Armando Silva Carvalho | Sentimento dum Acidental | Contexto de Poesia | 1981
China
(Final do século XVI)
Beber, empanturrar-se, fornicar, à mão comer das raparigas
Vai-se a energia e o sangue que há nas veias.
Perdes a esporra, mijas sangue e tutano
Sem azeite, na candeia, a vasa seca.
Então nunca tinhas dos prazeres bastante
Agora são por demais maleitas e dolências.
Que bela montanha: por ela própria voltada e derrubada.
E no final - para que servem - os remédios?
Poemas anónimos (Turcos, Mongóis, Chineses e incertos) | Assírio & Alvim | 2004
(Final do século XVI)
Beber, empanturrar-se, fornicar, à mão comer das raparigas
Vai-se a energia e o sangue que há nas veias.
Perdes a esporra, mijas sangue e tutano
Sem azeite, na candeia, a vasa seca.
Então nunca tinhas dos prazeres bastante
Agora são por demais maleitas e dolências.
Que bela montanha: por ela própria voltada e derrubada.
E no final - para que servem - os remédios?
Poemas anónimos (Turcos, Mongóis, Chineses e incertos) | Assírio & Alvim | 2004