|Assim repito o nome e sinto ainda o incêndio no rosto :|| paul celan |Porque é com nomes que alguém sabe | onde estar um corpo| por uma ideia, onde um pensamento | faz a vez da língua.| herberto helder
novembro 03, 2017
outubro 25, 2017
outubro 24, 2017
PLAY Bernardo Sassetti | Canço Nr. VI & Historia de Amor
De pedra em pedra
Te peço
Não morras de sede
Ou de luz
Daniel Faria (1971 -1999) | Poesia | Edições Quasi | 2006
De pedra em pedra
Te peço
Não morras de sede
Ou de luz
Daniel Faria (1971 -1999) | Poesia | Edições Quasi | 2006
outubro 23, 2017
"Representation of the ordinal numbers up to ωω. Each turn of the spiral represents one power of ω. Transfinite induction requires proving a base case (used for 0), a successor case (used for those ordinals which have a predecessor), and a limit case (used for ordinals which don't have a predecessor)."
outubro 22, 2017
outubro 17, 2017
outubro 16, 2017
outubro 12, 2017
PLAY Tindersticks | A nigth in
"Não sou astrólogo nem bruxo.
Uma vaga impaciência na voz.
Se adivinhasse o futuro...
Sabes o futuro até certa altura. Não faças batota.
Identificas-me contigo e falas de batota abusivamente. Confundes duas ordens de sonhos, esqueces metamorfoses irremediáveis, unificas o tempo, não consultas ninguém. Em termos rigorosos: só sei o teu passado. Onde está a batota?"
Carlos de Oliveira | Finisterra paisagem e povoamento | Sá da Costa Editora | 3a. Edição | 1979
"Não sou astrólogo nem bruxo.
Uma vaga impaciência na voz.
Se adivinhasse o futuro...
Sabes o futuro até certa altura. Não faças batota.
Identificas-me contigo e falas de batota abusivamente. Confundes duas ordens de sonhos, esqueces metamorfoses irremediáveis, unificas o tempo, não consultas ninguém. Em termos rigorosos: só sei o teu passado. Onde está a batota?"
Carlos de Oliveira | Finisterra paisagem e povoamento | Sá da Costa Editora | 3a. Edição | 1979
outubro 11, 2017
PLAY Pēteris Vasks | Plainscapes (Lidzenuma ainavas) for choir, violin, and cello
Como fractais,
em terceira pessoa do plural.
Estrangeiros do tempo,
escravos rarefeitos,
errantes imortais,
de carne no osso.
em terceira pessoa do plural.
Estrangeiros do tempo,
escravos rarefeitos,
errantes imortais,
de carne no osso.
[#1] Diálogo
"- A razão não é o único meio de dois seres se entenderem."
"Uma coisa fiquei a saber: é falso que alguém se entenda falando."
Adolfo Bioy Casares (1914 -1999) | Dormir ao sol | Editorial Estampa |1980
Robert Musil (1880-1942) | O Homem sem Qualidades |Dom Quixote | 2014 (4.ª Ed.)
(Trad. João Barrento)
*********************
"Uma coisa fiquei a saber: é falso que alguém se entenda falando."
Adolfo Bioy Casares (1914 -1999) | Dormir ao sol | Editorial Estampa |1980
outubro 10, 2017
antíteses | oxímaros | paradoxos | contradições
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©Daniel de Mello - Escher-Moebius-Bach |
PLAY António Variações | Canção do Engate
PLAY Tiago Bettencourt | Canção do Engate
outubro 09, 2017
outubro 04, 2017
O SENHOR
No entanto, ao menos os corsos servem para qualquer coisa. São carteiros. Quem nos traria o correio se não houvesse corsos?
A SENHORA
São um mal necessário
O SENHOR
O mal nunca é necessário
A SENHORA
Sim, isso também é verdade.
O SENHOR
Não julgue que eu desprezo a profissão de carteiro.
A SENHORA
Não há profissões mesquinhas!
O SENHOR, levantando-se
Minha senhora, acaba de dizer uma grande verdade! Merece a honra de um provérbio. Permita-me que a felicite... (Beija-lhe a mão.) Aqui tem a cruz de honra!
Pendura no peito da senhora uma cruz de honra de escola primária.
A SENHORA
Oh, Senhor... não passo de uma mulher, apesar de tudo!... Mas se é sincero!
O SENHOR
Garanto-lhe, minha senhora. A verdade pode brotar de qualquer cérebro...
Ionesco | A menina casadoira | Editorial Presença | 1963 (Trad. Luísa Neto Jorge)
No entanto, ao menos os corsos servem para qualquer coisa. São carteiros. Quem nos traria o correio se não houvesse corsos?
A SENHORA
São um mal necessário
O SENHOR
O mal nunca é necessário
A SENHORA
Sim, isso também é verdade.
O SENHOR
Não julgue que eu desprezo a profissão de carteiro.
A SENHORA
Não há profissões mesquinhas!
O SENHOR, levantando-se
Minha senhora, acaba de dizer uma grande verdade! Merece a honra de um provérbio. Permita-me que a felicite... (Beija-lhe a mão.) Aqui tem a cruz de honra!
Pendura no peito da senhora uma cruz de honra de escola primária.
A SENHORA
Oh, Senhor... não passo de uma mulher, apesar de tudo!... Mas se é sincero!
O SENHOR
Garanto-lhe, minha senhora. A verdade pode brotar de qualquer cérebro...
Ionesco | A menina casadoira | Editorial Presença | 1963 (Trad. Luísa Neto Jorge)
outubro 03, 2017
"Umas vezes as palavras partem-se,
outras, inteiras rejubilam,
onde estão os cães que ladram em qualquer intimidade?
em que praia desembarcará o medo rastejante?
Em que toca o cimento engolirá algumas décadas
até não apodrecer?
O futuro onde estamos tem a iníqua alegria dos sacanas.
*
A palavra, hoje, mutila.
A palavra, hoje, mutila."
Rui Nunes (2014) | Nocturno Europeu | Relógio D'Água
outras, inteiras rejubilam,
onde estão os cães que ladram em qualquer intimidade?
em que praia desembarcará o medo rastejante?
Em que toca o cimento engolirá algumas décadas
até não apodrecer?
O futuro onde estamos tem a iníqua alegria dos sacanas.
*
A palavra, hoje, mutila.
A palavra, hoje, mutila."
Rui Nunes (2014) | Nocturno Europeu | Relógio D'Água
outubro 02, 2017
Dar por certo e não ter como acertar.
PLAY Portishead | Roads
EINE ART VERLUST
Gemeinsam benutzt: Jahreszeiten, Bücher und eine Musik.
Die Schlüssel, die Teeschalen, den Brotkorb, Leintücher und ein Bett.
Eine Aussteuer von Worten, von Gesten, mitgebracht, verwendet, verbraucht.
Eine Hausordnung beachtet. Gesagt. Getan. Und immer die Hand gereicht.
In Winter, in ein Wiener Septett und in Sommer habe ich mich verliebt.
In Landkarten, in ein Bergnest, in einen Strand und ein Bett.
Einen Kult getrieben mit Daten, Versprechen für undkündbar erklärt,
angehimmelt ein Etwas und fromm gewesen vor einem Nichts,
(- der gefalteten Zeitung, der kalten Asche, dem Zettel mit einer Notiz)
furchtlos in der Religion, denn die Kirche war dieses Bett.
Aus dem Seeblick hervor ging meine unerschöpfliche Malerei.
Vom dem Balkon herab waren die Völker, meine Nachbarn, zu grüßen.
Am Kaminfeuer, in der Sicherheit, hatte mein Haar seine äußerste Farbe.
Das Klingeln an der Tür war de Alarm für meine Freude.
Nicht dich habe ich verloren,
sondern die Welt.
Ingeborg Bachmann (1953) | O tempo aprazado | Assírio&Alvim | 1992
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fotograma de "Cavalo de Turim" | Béla Tarr |
"Paro diante de cada ameaça de ruína para me examinar tal como sou. Justamente o que queria evitar. Mas trata-se sem dúvida de uma única maneira. Depois deste banho de lama conseguirei admitir melhor um mundo onde não seja uma nódoa. Que maneira de pensar a minha. Abrirei os olhos, ver-me-ei tremer, engolirei a minha sopa, olharei para o pequeno amontoado dos meus haveres, darei ao meu corpo as velhas ordens que o sei incapaz de cumprir, consultarei a minha consciência caducada, estragarei a minha agonia para a viver melhor, já longe do mundo que por fim se dilata e me deixa passar."
(...)
"E talvez esteja nesse ponto do seu instante em que viver é errar só e vivo no fundo de um instante sem limites, onde a luz não muda e onde os destroços são todos semelhantes. "
(...)
"Ou então é preciso termos toda a noite à nossa frente, para seguirmos as lentas quedas e ascensões do outros mundos, quando as há, ou para ficarmos à espera dos meteoros, e eu não tenho a noite toda à minha frente."
Samuel Beckett | Malone está a morrer | Dom Quixote
setembro 26, 2017
agosto 16, 2017
julho 31, 2017
julho 20, 2017
julho 04, 2017
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©Gerard Castello-Lopes |
Há muitas solidões cruzadas - diz - em cima e em baixo
e outras no meio; diferentes e semelhantes, forçadas e impostas
ou como que escolhidas, como que livres - mas sempre cruzadas.
Mas no fundo, no centro, há apenas uma solidão - diz;
uma cidade vazia, quase esférica, sem quaisquer
anúncios luminosos multicores, sem lojas, sem motocicletas,
com uma luz branca, vazia, brumosa, interrompida
por centelhas de desconhecidos semáforos. NEsta cidade
habitam desde há anos os poetas. Caminham silenciosos de braços cruzados,
recordam factos imprecisos, esquecidos, palavras, paisagens,
estes consoladores do mundo, sempre inconsolados, perseguidos
pelos cães, pelos homens, pelos vermes, pelos ratos, pelas estrelas,
perseguidos até pelas suas próprias palavras, ditas ou não ditas.
Giánnis Ritsos (1972) | Antologia | Fora do Texto | 1993
julho 01, 2017
junho 10, 2017
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©Ema Spencer | Kitten's Party (Child Study) | 1899 (ca) |
Escolhemos o segredo dos lamentos,
das descidas cromáticas
que adensam a beleza de tudo o que nos dói.
Inventamos escalas
que nos sustentam os sorrisos modelados,
enquanto nos distraimos em infinitos círculos.
Degrau a degrau,
corrigimos a sombra dos passos,
prevemos as quedas.
[e escolhemos cair]
PLAY Fernando Lopes-Graça | Acordai
"Hoje, como ontem, continuamos discípulos obedientes das escolas e processos mais ou menos marcantes lá de fora. E muita sorte quando essas escolas e processos não são já velhos cinquenta anos! - o que sucede na maioria dos casos. Os poucos artistas que entre nós têm coragem de ser de hoje, de afirmar uma titubeante personalidade, aqueles que possuem, na realidade, alguma originalidade (e alguns há) não contam: o meio asfixia-os; e eles acabam ou por transigir, ou por renunciar, ou por se matar.
Depois, a verdade é esta: Em Portugal não existe o problema artístico. Pode existir o problema a existência ou da subsistência material do artista. Mas aquilo a que pròpriamente se pode chamar problema artístico, isto é: a investigação das condições, determinantes e possibilidades de criação e da contemplação artísticas, donde resulta a vida real da arte - não, esse problema não existe cá. É doloroso, mas é assim mesmo."
Fernando Lopes-Graça (1935) | Cultura, educação, arte, etc. in "Disto e Daquilo" | Edição Cosmos | Lisboa | 1973
PLAY Fernando Lopes-Graça | Três Esconjuros
"Hoje, como ontem, continuamos discípulos obedientes das escolas e processos mais ou menos marcantes lá de fora. E muita sorte quando essas escolas e processos não são já velhos cinquenta anos! - o que sucede na maioria dos casos. Os poucos artistas que entre nós têm coragem de ser de hoje, de afirmar uma titubeante personalidade, aqueles que possuem, na realidade, alguma originalidade (e alguns há) não contam: o meio asfixia-os; e eles acabam ou por transigir, ou por renunciar, ou por se matar.
Depois, a verdade é esta: Em Portugal não existe o problema artístico. Pode existir o problema a existência ou da subsistência material do artista. Mas aquilo a que pròpriamente se pode chamar problema artístico, isto é: a investigação das condições, determinantes e possibilidades de criação e da contemplação artísticas, donde resulta a vida real da arte - não, esse problema não existe cá. É doloroso, mas é assim mesmo."
Fernando Lopes-Graça (1935) | Cultura, educação, arte, etc. in "Disto e Daquilo" | Edição Cosmos | Lisboa | 1973
PLAY Fernando Lopes-Graça | Três Esconjuros
junho 07, 2017
maio 31, 2017
"Maio as traz, Maio as leva"
PLAY Bernardo Sassetti | Prelúdio para uma história invisível
Não precisa de Maio para ser lembrado. Mas Maio lembra-o (mais e mais).
Não precisa de Maio para ser lembrado. Mas Maio lembra-o (mais e mais).
PLAY Lhasa de Sela | Who By Fire (Leonard Cohen)
Who By Fire
And who by fire,
who by water,
who in the sunshine,
who in the night time,
who by high ordeal,
who by common trial,
who in your merry merry month of may,
who by very slow decay,
and who shall I say is calling?
Who By Fire
And who by fire,
who by water,
who in the sunshine,
who in the night time,
who by high ordeal,
who by common trial,
who in your merry merry month of may,
who by very slow decay,
and who shall I say is calling?
maio 18, 2017
maio 08, 2017
(...)
Que nos resta senão linguagem para povoar o mundo?
E no momento em que a linguagem defina o mundo
esse mundo é recusado
que não cabe à linguagem achar a definição
nem ao objecto ser definível. A ausência
embeleza o ausente
e para teu mel de lábio a incerteza do sabor de cada gota,
um outro lábio que sofre
essa incerteza. Um insistente fim, o estudo próximo,
a reverberação da angústia;
alguma coisa de importante foi esquecida.
Um poema é: nunca me deixes sozinho comigo.
Um poema é: não pode ser de outra maneira.
Daniel Jonas | Os fantasmas inquilinos | Cotovia | 2005
Que nos resta senão linguagem para povoar o mundo?
E no momento em que a linguagem defina o mundo
esse mundo é recusado
que não cabe à linguagem achar a definição
nem ao objecto ser definível. A ausência
embeleza o ausente
e para teu mel de lábio a incerteza do sabor de cada gota,
um outro lábio que sofre
essa incerteza. Um insistente fim, o estudo próximo,
a reverberação da angústia;
alguma coisa de importante foi esquecida.
Um poema é: nunca me deixes sozinho comigo.
Um poema é: não pode ser de outra maneira.
Daniel Jonas | Os fantasmas inquilinos | Cotovia | 2005
abril 28, 2017
SÃO TRISTES OS MEUS DIAS COM PEDRAS
em lugar de mãos
ou a cabeça funda na brancura
de través do travesseiro
e o corpo depresso em moles guindastes.
São dias de chorar por menos
ou teimar queixoso com um crânio polido,
batuque convexo
no muro demorado.
Ficar a ouvir o sangue,
o som tubular do sangue. Ao vale seco
da clavícula atrair a água, o sangue
e sorver a sopa intestina
ou se o líquido escapa à boca
tantálica, calar com argila
o que me pede água.
Ficar a palpar buracos
da ausência, as ligas
da ausência, as ribanceiras
a que caem os pensamentos, a cor
dióspiro que banha a enfermidade
e em seguida tomar o pulso
evadido, travar o touro, o soco da dor,
o infinito infinitivo presente.
Uma amálgama de alma
migra no fôlego do modorrento
pregão de dor, o condor
passa e anda andino e é uma
traça asfixiante: faço um céu rarefeito,
a dispneia é um felino
que arranha céus
e a boca rebuliço espúmeo
expele o sabor da morte
e o que mais consiga cuspir
por entre ovéns e enxárcias
e traves quebradas.
É uma desilusão com as coisas,
uma desilusão funda com as coisas,
com o vazio meio-cheio das coisas.
Meu fôlego um fólio cheio
de silêncio, uma catástrofe natural
um vulcão: no meu pulmão pôr lava
e no trovão treva.
Daniel Jonas | Os fantasmas inquilinos | Cotovia | 2005
em lugar de mãos
ou a cabeça funda na brancura
de través do travesseiro
e o corpo depresso em moles guindastes.
São dias de chorar por menos
ou teimar queixoso com um crânio polido,
batuque convexo
no muro demorado.
Ficar a ouvir o sangue,
o som tubular do sangue. Ao vale seco
da clavícula atrair a água, o sangue
e sorver a sopa intestina
ou se o líquido escapa à boca
tantálica, calar com argila
o que me pede água.
Ficar a palpar buracos
da ausência, as ligas
da ausência, as ribanceiras
a que caem os pensamentos, a cor
dióspiro que banha a enfermidade
e em seguida tomar o pulso
evadido, travar o touro, o soco da dor,
o infinito infinitivo presente.
Uma amálgama de alma
migra no fôlego do modorrento
pregão de dor, o condor
passa e anda andino e é uma
traça asfixiante: faço um céu rarefeito,
a dispneia é um felino
que arranha céus
e a boca rebuliço espúmeo
expele o sabor da morte
e o que mais consiga cuspir
por entre ovéns e enxárcias
e traves quebradas.
É uma desilusão com as coisas,
uma desilusão funda com as coisas,
com o vazio meio-cheio das coisas.
Meu fôlego um fólio cheio
de silêncio, uma catástrofe natural
um vulcão: no meu pulmão pôr lava
e no trovão treva.
Daniel Jonas | Os fantasmas inquilinos | Cotovia | 2005
abril 27, 2017
![]() |
©Kafka’s own doodles |
- Este?
- Não. Esse está em cima do sofá.
- Toma.
- Mas este é de BD e não estava em cima da mesa.
- Queres o Beckett?
- Não, não é o Beckett. O Beckett está na prateleira. Quero esse que está em cima da mesa, o Kafka.
- Mãe, eu ainda não sei ler.
- Estou a falar desse livro que está em cima da mesa grande, mesmo à tua frente. Não gozes comigo.
- Este?
- Sim. Irra, que estava difícil. Franz Kafka - o nome do autor.
- Ah, afinal sempre querias o Beckett! (risos)
![]() |
©Beckett’s doodles from the “Watt” notebooks |
abril 22, 2017
![]() |
©Thomas Hoepker |GERMANY. East Berlin. Fallen angels from facade of the Berlin cathedral in street | 1974 |
PLAY Massive Attack | Splitting the Atom
Nascemos para esse voo - infinito terrestre-
para a depuração de sinónimos,
com magia de códigos alpinos.
Enterramos a cabeça,
deixamos as pernas de fora,
esperamos que cresçam,
esperamos que andem.
Desperdiçamos quedas,
desperdiçamos abismos.
Fatalmente intoxicados,
por"se's" e "mas",
caímos, por terra, frouxos,
nestes corpos mínimos,
onde as asas não quiseram voar.
Agonizamos inscritos no epitáfio:
«Aqui jazem,
infinitos indizíveis, por nascer».
abril 20, 2017
I cry in my sleep
Sometimes you stay
Sometimes you stay
You never know why
Please say my name
Don't turn away
[chorus]
The pain is black
The pain is bright
The pain is black
The pain is bright
The pain is bright
Then I awake
And in the half light
Watching my movements
Through half closed eyes
You're touching me
As a priest loves pornography
We played beneath the patterns[?]
Don't turn away
[chorus]
Kissed by the years
Caresses of time
Marking the lines
The lines of expression
The patterns of place
The patterns of youth
The patterns of love
Don't turn away
Say my name
Say my nameabril 14, 2017
![]() |
©Leonard Freed | Wall Street |New York City. USA |1956 |
"Numa grande estrada não é raro vermos uma onda, uma onda solitária, onda fora do oceano.
Não tem utilidade nenhuma, não constitui nenhum jogo.
É um caso de espontaneidade mágica."
*
* *
"Os Magos amam o escuro. Os principiantes não podem passar sem ele. Exercitam a mão, se assim pode dizer-se, em baús, roupeiros, guarda-fatos, cofres, caves, sótãos, caixas de escada.
Não há dia em minha casa que não saia do armário qualquer coisa insólita, seja um sapo, um rato, aliás com cheiro a inépcia e que logo ali se esvai sem poder fugir.
Até enforcados se encontravam, dos falsos claro está, onde nem a corda era verdadeira.
Quem pode garantir que a gente se habitue com o tempo? Uma apreensão retinha-me sempre por um instante, com a mão indecisa no puxador.
Um dia rolou uma cabeça ensanguentada para cima do meu casaco acabado de estrear, sem lhe fazer, aliás, nenhuma nódoa.
Depois de um instante - infecto - de nunca mais querermos viver outro igual - voltei a fechar a porta.
Tinha que ser um noviço, este Mago, para não conseguir pôr uma nódoa num casaco tão claro.
Mas a cabeça, o seu peso, o seu aspecto geral, tinham sido bem imitados. Pavorosamente, agoniado, eu já estava a senti-la a cair-me em cima quando desapareceu."
Henri Michaux (1967) | No País da Magia | Hiena Editora | 1987
abril 12, 2017
abril 03, 2017
"Por vezes vinha um motorista novo, e eu pensava: como é que eles escolhem estes filhos da mãe? Temos água profundas de ambos os lados e basta uma má decisão para o tipo nos matar. Era ridículo. Suponhamos que ele tem uma discussão com a mulher nessa manhã? Ou o cancro? Ou visões de Deus? Dentes podres? O que seja. Estava ao seu alcance. Mandar-nos a todos para o galheiro. Eu tinha noção de que, se fosse eu ao volante, consideraria a possibilidade ou a desejabilidade de afogar toda a gente. E, por vezes, na sequência de tais considerações, as possibilidades tornam-se realidade. Para cada Joana d'Arc há um Hitler empoleirado na outra ponta do balancé. A velha história do bem e do mal. Mas nenhum dos motorista chegou a mandar-nos para o galheiro. Em vez disso, iam a pensar em prestações do carro, resultados do basebol, cortes de cabelo, férias, clisteres, visitas de família. Não havia um homem a sério naquela pandilha. Eu chegava sempre ao trabalho maldisposto mas em segurança. O que prova por que é que o Shumann era mais raltivo do que o Shostakovich..."
Charles Bukowski (1975) | Factotum | Alfaguara | 2017
Charles Bukowski (1975) | Factotum | Alfaguara | 2017
![]() |
©Paula Rego |
"As discussões eram sempre as mesmas. Já percebia perfeitamente: os grandes amantes são sempre homens de ócio. Eu fodia melhor quando era vagabundo do que a picar o ponto no trabalho."
Charles Bukowski (1975) | Factotum | Alfaguara | 2017
março 30, 2017
©Edvard Munch | The Scream| 1910
"Meti-me na cama, abri a garrafa, enrodilhei bem a almofada atrás das costas, respirei fundo e fiquei no escuro a espreitar a janela. Era a primeira vez que estava sozinho em cinco dias. Eu era um tipo que se dava bem com a solidão; sem ela, era apenas mais um homem sem comida ou sem água. Enfraquecia a cada dia passado sem solidão. Não me orgulhava da minha solidão; mas dependia dela. A escuridão do quarto assemelhava-se à claridade para mim. Dei um gole de vinho.
De repente, o quarto encheu-se de luz. Seguiu-se uma algazarra e um estrondo. A El passava à altura do meu quarto. Tinha passado um metro. Olhei para um friso de caras nova-iorquinas que também me olhavam. O comboio demorou-se, até que arrancou. Ficou escuro. Depois o quarto voltou a encher-se de luz. Olhei novamente para os rostos. Parecia a visão do inferno em repetição ininterrupta. Cada nova remessa de rostos era mais feia, demente e cruel do que a anterior. Dei um gole de vinho.
A coisa continuava: escuridão e depois luz; luz e outra vez escuridão. Acabei o vinho e saí para ir buscar mais. Voltei, despi-me, enfiei-me novamente na cama. Prosseguia a chegada e partida dos rostos; tive a sensação de estar a ter uma visão. Estava a ser visitado por centenas de diabos que o Próprio Diabo não conseguia aturar. Dei mais um gole de vinho."
Charles Bukowski (1975) | Factotum | Alfaguara | 2017