abril 14, 2017

©Leonard Freed | Wall Street |New York City. USA |1956
    
"Numa grande estrada não é raro vermos uma onda, uma onda solitária, onda fora do oceano.
     Não tem utilidade nenhuma, não constitui nenhum jogo.
     É um caso de espontaneidade mágica."

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     "Os Magos amam o escuro. Os principiantes não podem passar sem ele. Exercitam a mão, se assim pode dizer-se, em baús, roupeiros, guarda-fatos, cofres, caves, sótãos, caixas de escada.
     Não há dia em minha casa que não saia do armário qualquer coisa insólita, seja um sapo, um rato, aliás com cheiro a inépcia e que logo ali se esvai sem poder fugir.
     Até enforcados se encontravam, dos falsos claro está, onde nem a corda era verdadeira.
     Quem pode garantir que a gente se habitue com o tempo? Uma apreensão retinha-me sempre por um instante, com a mão indecisa no puxador. 
    Um dia rolou uma cabeça ensanguentada para cima do meu casaco acabado de estrear, sem lhe fazer, aliás, nenhuma nódoa.
     Depois de um instante - infecto - de nunca mais querermos viver outro igual - voltei a fechar a porta.
      Tinha que ser um noviço, este Mago, para não conseguir pôr uma nódoa num casaco tão claro.
    Mas a cabeça, o seu peso, o seu aspecto geral, tinham sido bem imitados. Pavorosamente, agoniado, eu já estava a senti-la a cair-me em cima quando desapareceu."

Henri Michaux (1967) | No País da Magia | Hiena Editora | 1987