dezembro 26, 2019

História inventada

raquelsav | 2019
Era uma vez um poema que chorava. Era um poema que chorava por não ser lido.
Um dia, o poema saltou para um livro da Sophia. Esperou, esperou, mas ninguém o leu.

Era uma vez um poema que chorava. Era um poema que chorava por não ser lido.
Um dia, o poema subiu à torre do castelo e projectou-se no céu. Mas era noite das festas da cidade e, na confusão das luzes, ninguém o viu.

Era uma vez um poema que chorava. Era um poema que chorava por não ser lido.
Um dia, trepou para um quadro exposto no corredor da biblioteca municipal e, vaidoso, via multidões a passar. Esperou, esperou, mas ninguém o admirou.

Era uma vez um poema que chorava. Era um poema que chorava por não ser lido.
Um dia, escondeu-se numa música popular. Todos a trauteavam mas ninguém a ouvia.

Era um poema que chorava. Era um poema cada vez mais triste.
Até que uma menina pediu, para ele, um final feliz. O poema saía, palavra por palavra, da história contada,  pela boca da mãe.
- A menina sou eu?
O poema sorriu e a menina também.