abril 18, 2021

 




abril 08, 2021

 

Fotograma da série "Shtisel"

abril 07, 2021

©raquelsav | abril 2021


As mães não caçam os ovos com os filhos porque é Primavera e os pássaros já nasceram. Os ninhos são teias de cabelos de mãe, que aquecem os ovos, que afagam os filhos. E os ramos das árvores são os altos braços das mães que seguram os ninhos. Mas os braços secam, porque as árvores também choram, e os ninhos caem para os filhos terem de voar. Na queda, as mães são as madrinhas de voo do baptismo dos filhos. E os seus dedos de fada são varinhas de condão que não concedem desejos. As mães sabem que por cada desejo realizado morre um sonho antigo. Por isso, são inábeis caçadoras de sonhos dos filhos, preferem deixá-los voar. 

 As mães são gotas de água na frágil teia dos filhos, nascem no orvalho da manhã e secam no estio das suas vidas. As teias desfazem-se e as gotas das mães são o mar, que é salgado com as lágrimas dos lutos dos filhos. Elas bebem o mar, por inteiro, para dar pé aos filhos. E eles caminham até aos braços salgados das suas mães. O abraço das mães é a casa sagrada dos filhos - é por isso que os filhos transportam a chave do coração das mães.