dezembro 17, 2023

 

©raquelsav | 2023 | Lagoa de Maiorca


Olhamos tudo em silêncio na linha da praia

De olhos na noite suspensos do céu que desmaia;

Ai lua nova de Outubro, trazes as chuvas e ventos,

A alma a segredar, a boca a murmurar tormentos!


Descem de nuvens de assombro taínhas e bagres

Se as aves embalam os peixes em certos milagres;

Levita-se o corpo da alma, no choro das ladainhas,

Na reza dos condenados, nas pragas dos sitiados,

Na ilha dos ladrões, quem sai?

E leva este recado ao cais:

São penas, são sinais. Adeus.


Livra-me da fome que me consome, deste frio;

Livra-me do mal desse animal que é este cio;

Livra-me do fado e se puderes abençoado

Leva-me a mim a voar pelo ar!


Como se houvesse um encanto, uma estranha magia,

O sol lentamente flutua nas margens do dia.

Despe o meu corpo corsário, seca-me a veia maruja,

Morde-me o peito aos ais, das brigas, dos punhais,

Da ilha dos ladrões, quem sai?

E leva este recado ao cais:

São penas, são sinais. Adeus.


Andamos nus e descalços, amantes, sedentos

Se o véu da noite se deita na curva do tempo.

Ai lua nova de Outubro,

Os medos são medos das chuvas e ventos,

Da alma a segredar, da boca a murmurar


Adeus

Fausto Bordalo Dias