Queda de um grave

          - LXXXI-

Em parte, o que parte

nunca deixa de fazer parte

Queda de um grave

          - LXXXII-

Falo-te com a mesma voz 

com falo para mim própria,

talvez seja isso, o amor

Queda de um grave

         - LXXXIII-

Porque a resposta mora

na centelha que, 

sagradamente,

guardo de ti

Queda de um grave

        - LXXXIV-

O horizonte também nos distrai,

com a sua inequívoca beleza

Queda de um grave

         - LXXXV-

Quando os relógios se atrasam,

suspiro na espera e

finjo chegar na hora certa

Queda de um grave

        - LXXXVI-

Fáceis

não são as partes,

do todo que em mim se assoma

Queda de um grave

        - LXXXVII-

Nas horas boas,

o tempo da coragem

é o tempo do combate

Queda de um grave

       - LXXXVIII-

Deitamo-nos como o oito,

em pose de infinito

Queda de um grave

      - LXXXIX-

Cresço

com as dores

da palavra transfigurada

Queda de um grave

      - XC-

Ultrapassamos limites

porque não sabemos

como não os impor

Queda de um grave

      - XCI-

Há pedras que caem

para ajudar a 

construir o muro

Queda de um grave

     - XCII-
Escrevemos o que nos dói

e, nem por isso,

fazemos da dor um mal menor

Queda de um grave

    - XCIII-
Porque os astros que cintilam
nem sempre são os que melhor iluminam

Queda de um grave

   - XCIV-

Respondi "nem sempre"

quando me afirmaram que

é a carne do fruto, o alimento que mais sacia

Queda de um grave

  - XCV-

A leveza

é dos fardos mais pesados

que o homem pode erguer

Queda de um grave

 - XCVI-

Longe e perto

são reflexos no espelho

da mesma face

Queda de um grave

    - XCVII-

A montanha

não é mais alta

do que o homem que cresce

Queda de um grave

    - XCVIII-

Os valentes nascem

dos abismos que desvanecem

Queda de um grave

   - XCIX-

No limbo, habita

a inocência de não 

saber esperar

Queda de um grave

      - C-

É meu, também,

o lugar da minha fuga-

transporto-o

em ferida de lembrar

o que quero irrepetível