|Assim repito o nome e sinto ainda o incêndio no rosto :|| paul celan |Porque é com nomes que alguém sabe | onde estar um corpo| por uma ideia, onde um pensamento | faz a vez da língua.| herberto helder
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outubro 04, 2016
agosto 02, 2016
julho 20, 2016
[#1] "furibunda melancolia" | "ironia furibunda"
fotograma de "Nostalgia" | Andrei Tarkovsky (1983) |
"Uma gota, mais uma gota fazem uma grande gota, não duas gotas." ("Nostalgia")
------------------------------------------------------------------- 4.
Coloca uma palavra
no vale da minha mudez
e planta florestas de ambos os lados,
para que a minha boca
fique toda à sombra.
In die Mulde meiner Stummheit
leg ein Wort
und zieh Wälder groß zu beiden Seiten,
daß mein Mund
ganz im Schatten liegt.
Ingeborg Bachmann (1953) | O tempo aprazado | Assírio&Alvim | 1992
-------------------------------------------------AQUELE QUE NOS CONTAVA AS HORAS
Aquele que nos contava as horascontinua a contar.
Que estará ele a contar, diz?
Conta e torna a contar.
Não faz mais frio,
nem mais noite,
nem mais húmido.
Só aquilo que nos ajudava a escutar
agora escuta
para si sozinho
DER UNS DIE STUNDEN ZÄHLTE
Der uns die Stunden zählen, sag?
Er zählt und zählt.
Nicht hühler wirds,
nicht nächtiger,
nicht feutchter.
Nur was uns lauschen half:
es lauscht nun
für sich allein
Paul Celan (1955) | Sete Rosas Mais Tarde | Cotovia | 1996
março 22, 2016
fotograma de Stalker (1979) | Tarkovsky |
“Quando o homem nasce, é fraco e flexível; quando morre é impassível e duro. Quando uma árvore nasce, é tenra e flexível; quando se torna seca e dura, ela morre. A dureza e a força são atributos da morte; a flexibilidade e a fraqueza são a frescura do ser. Por isso, quem endurece, nunca vencerá…”
"Grosso modo, não existem factos, muito menos aqui. Tudo isto é uma invenção idiota de não-sei-quem. (...) Você, claro, quer saber quem foi o inventor. Mas para quê? De que lhe valerão os conhecimentos? A quem doerá a inconsciência? A mim? Não tenho consciência, só os nervos...
Um canalha maldiz-me, uma ferida...
Outro canalha elogia-me, outra ferida. Ofereço a alma e o coração,
devoram-me a alma e o coração. Tiro uma vileza da minha alma, devoram a
vileza. São todos muito entendidos! Todos com a fome de sensações.
Todos se agitam à minha volta: jornalistas, redactores, críticos, meretrizes sem conta... Todos exigem: mais, mais! Que raio de escritor
sou eu, se odeio escrever? Se, para mim, é um martírio, um suplício,
uma vergonha, como se estivesse a arrancar hemorróidas?
Dantes, pensava que os meus livros iriam fazer alguém melhor. Mas ninguém precisa de mim! Quando morrer, passados dois dias, começam logo a devorar outro. Esperava mudá-los, mas mudado acabei por ser eu! À imagem e semelhança deles!
Dantes, o futuro era apenas a continuação do presente. Transformações vislumbravam-se muito longe, no horizonte. Agora, porém, o futuro e o presente fundiram-se. Estarão eles prontos para isto? Não querem saber de nada! Apenas devoram!"
Dantes, pensava que os meus livros iriam fazer alguém melhor. Mas ninguém precisa de mim! Quando morrer, passados dois dias, começam logo a devorar outro. Esperava mudá-los, mas mudado acabei por ser eu! À imagem e semelhança deles!
Dantes, o futuro era apenas a continuação do presente. Transformações vislumbravam-se muito longe, no horizonte. Agora, porém, o futuro e o presente fundiram-se. Estarão eles prontos para isto? Não querem saber de nada! Apenas devoram!"
"E dizem-se intelectuais, escritores,
cientistas! (...) Não acreditam em nada! Têm atrofiado o órgão da
crença. Não o usam! (...) Têm os olhos vazios! Só pensam em não
pagar mais, em vender-se por mais dinheiro! Querem que todo o trabalho
de espírito lhes seja pago. Sabem que não nasceram em vão, que são predestinados! Que só vivem uma vez!
Claro que não acreditam seja no que for! (...) Ninguém acredita, não
só esses dois. Ninguém! Quem hei-de eu seguir? O pior é que
ninguém precisa deste Quarto. Todos os meus esforços são inúteis! (...)
Não levarei mais ninguém."
fotograma de Stalker (1979) | Tarkovsky
fevereiro 29, 2016
fotograma de Wittgenstein (1993) de Derek Jarman |
"Designar uma coisa é pendurar-lhe uma etiqueta"
(...)
A nossa linguagem pode ser vista como uma cidade antiga: um labirinto de travessas e largos, casas antigas e modernas e casas com reconstruções de diversas épocas; tudo isto rodeado de uma multiplicidade de novos bairros periféricos com ruas regulares e as casas todas uniformizadas.
(...)
conceber uma linguagem é conceber uma forma de vida"
Ludwig Wittgenstein (1889-1951),
Investigações Filosóficas, F. C. Gulbenkian, 2002
janeiro 28, 2016
janeiro 20, 2016
janeiro 19, 2016
fotograma de "Youth" (2015) de Paolo Sorrentino
"-Podemos entender quase tudo pelo toque.
- Quem sabe por que as pessoas têm tanto medo do toque?
- Talvez porque achem que está ligado ao prazer.
- Mais uma boa razão para tocar ao invés de falar."
"Eu gosto de ironia. Mas quando ela vem mergulhada em veneno e ódio perde a piada. E revela outra coisa - frustração."
janeiro 13, 2016
fotograma de Ninfomaníaca (2013) de Lars von Trier |
- Cada vez que uma palavra se torna proibida, remove-se uma pedra da fundação da democracia.
- O politicamente correto é uma expressão da preocupação democrática pelas minorias.
- E eu digo que a sociedade é tão cobarde quanto as pessoas. Que, na minha opinião, são demasiado estúpidas para a democracia."
“E definitivamente não sou igual a si (psicóloga). Essa empatia que clama é uma mentira porque tudo o que você é, é a vigília da moralidade da sociedade, cujo dever, é apagar a minha obscenidade da superfície da terra, para que a burguesia não se sinta doente.”
agosto 10, 2015
fotograma de Loin des Hommes de David Oelhoffen (2014)
"Balducci fez o gesto de passar a lâmina no pescoço. O árabe, cuja atenção fora atraída para a conversa, observava-o inquieto, e Daru sentiu uma cólera súbita contra esse homem, contra todos os homens e sua estúpida maldade, contra os seus ódios incansáveis e inextinguível sede de sangue."
Albert Camus (1957)
O Hóspede in O Exílio e o Reino, Edição Livros do Brasil
agosto 07, 2015
fotograma de Citizen Kane de Orson Welles (1941) |
- O senhor ia falar sobre Rosebud.
- Você tem um bom charuto? Há aqui um médico jovem que acha que vou parar de fumar.
- Não tenho, sinto muito.
- Eu mudei de assunto. Que velho desagradável eu me tornei! Você é jornalista e quer saber a minha opinião sobre Charlie Kane. Bom, creio que ele tinha alguma grandeza interior... mas guardou-a para si. Ele nunca se entregava, nunca dava coisa alguma... apenas te deixava uma gorjeta. EIe tinha uma mente generosa. Nunca vi ninguém com tantas opiniões! Mas nunca acreditou em nada, exceto em Charlie Kane. Nunca teve uma convicção na vida, excepto Charlie Kane. Acho que morreu sem nenhuma. Deve ter sido desagradável. Claro, nós morremos sem saber o que é a morte, mas sabemos o que estamos a deixar, acreditamos em algo. Você não tem mesmo um charuto?
- Desculpe, Sr. Leland.
- Tudo bem.
Leland & Thompson, "Citizen Kane" (1941) de Orson Welles