|Assim repito o nome e sinto ainda o incêndio no rosto :|| paul celan |Porque é com nomes que alguém sabe | onde estar um corpo| por uma ideia, onde um pensamento | faz a vez da língua.| herberto helder
agosto 16, 2017
julho 31, 2017
julho 20, 2017
julho 04, 2017
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©Gerard Castello-Lopes |
Há muitas solidões cruzadas - diz - em cima e em baixo
e outras no meio; diferentes e semelhantes, forçadas e impostas
ou como que escolhidas, como que livres - mas sempre cruzadas.
Mas no fundo, no centro, há apenas uma solidão - diz;
uma cidade vazia, quase esférica, sem quaisquer
anúncios luminosos multicores, sem lojas, sem motocicletas,
com uma luz branca, vazia, brumosa, interrompida
por centelhas de desconhecidos semáforos. NEsta cidade
habitam desde há anos os poetas. Caminham silenciosos de braços cruzados,
recordam factos imprecisos, esquecidos, palavras, paisagens,
estes consoladores do mundo, sempre inconsolados, perseguidos
pelos cães, pelos homens, pelos vermes, pelos ratos, pelas estrelas,
perseguidos até pelas suas próprias palavras, ditas ou não ditas.
Giánnis Ritsos (1972) | Antologia | Fora do Texto | 1993
julho 01, 2017
junho 10, 2017
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©Ema Spencer | Kitten's Party (Child Study) | 1899 (ca) |
Escolhemos o segredo dos lamentos,
das descidas cromáticas
que adensam a beleza de tudo o que nos dói.
Inventamos escalas
que nos sustentam os sorrisos modelados,
enquanto nos distraimos em infinitos círculos.
Degrau a degrau,
corrigimos a sombra dos passos,
prevemos as quedas.
[e escolhemos cair]
PLAY Fernando Lopes-Graça | Acordai
"Hoje, como ontem, continuamos discípulos obedientes das escolas e processos mais ou menos marcantes lá de fora. E muita sorte quando essas escolas e processos não são já velhos cinquenta anos! - o que sucede na maioria dos casos. Os poucos artistas que entre nós têm coragem de ser de hoje, de afirmar uma titubeante personalidade, aqueles que possuem, na realidade, alguma originalidade (e alguns há) não contam: o meio asfixia-os; e eles acabam ou por transigir, ou por renunciar, ou por se matar.
Depois, a verdade é esta: Em Portugal não existe o problema artístico. Pode existir o problema a existência ou da subsistência material do artista. Mas aquilo a que pròpriamente se pode chamar problema artístico, isto é: a investigação das condições, determinantes e possibilidades de criação e da contemplação artísticas, donde resulta a vida real da arte - não, esse problema não existe cá. É doloroso, mas é assim mesmo."
Fernando Lopes-Graça (1935) | Cultura, educação, arte, etc. in "Disto e Daquilo" | Edição Cosmos | Lisboa | 1973
PLAY Fernando Lopes-Graça | Três Esconjuros
"Hoje, como ontem, continuamos discípulos obedientes das escolas e processos mais ou menos marcantes lá de fora. E muita sorte quando essas escolas e processos não são já velhos cinquenta anos! - o que sucede na maioria dos casos. Os poucos artistas que entre nós têm coragem de ser de hoje, de afirmar uma titubeante personalidade, aqueles que possuem, na realidade, alguma originalidade (e alguns há) não contam: o meio asfixia-os; e eles acabam ou por transigir, ou por renunciar, ou por se matar.
Depois, a verdade é esta: Em Portugal não existe o problema artístico. Pode existir o problema a existência ou da subsistência material do artista. Mas aquilo a que pròpriamente se pode chamar problema artístico, isto é: a investigação das condições, determinantes e possibilidades de criação e da contemplação artísticas, donde resulta a vida real da arte - não, esse problema não existe cá. É doloroso, mas é assim mesmo."
Fernando Lopes-Graça (1935) | Cultura, educação, arte, etc. in "Disto e Daquilo" | Edição Cosmos | Lisboa | 1973
PLAY Fernando Lopes-Graça | Três Esconjuros
junho 07, 2017
maio 31, 2017
"Maio as traz, Maio as leva"
PLAY Bernardo Sassetti | Prelúdio para uma história invisível
Não precisa de Maio para ser lembrado. Mas Maio lembra-o (mais e mais).
Não precisa de Maio para ser lembrado. Mas Maio lembra-o (mais e mais).
PLAY Lhasa de Sela | Who By Fire (Leonard Cohen)
Who By Fire
And who by fire,
who by water,
who in the sunshine,
who in the night time,
who by high ordeal,
who by common trial,
who in your merry merry month of may,
who by very slow decay,
and who shall I say is calling?
Who By Fire
And who by fire,
who by water,
who in the sunshine,
who in the night time,
who by high ordeal,
who by common trial,
who in your merry merry month of may,
who by very slow decay,
and who shall I say is calling?
maio 18, 2017
maio 08, 2017
(...)
Que nos resta senão linguagem para povoar o mundo?
E no momento em que a linguagem defina o mundo
esse mundo é recusado
que não cabe à linguagem achar a definição
nem ao objecto ser definível. A ausência
embeleza o ausente
e para teu mel de lábio a incerteza do sabor de cada gota,
um outro lábio que sofre
essa incerteza. Um insistente fim, o estudo próximo,
a reverberação da angústia;
alguma coisa de importante foi esquecida.
Um poema é: nunca me deixes sozinho comigo.
Um poema é: não pode ser de outra maneira.
Daniel Jonas | Os fantasmas inquilinos | Cotovia | 2005
Que nos resta senão linguagem para povoar o mundo?
E no momento em que a linguagem defina o mundo
esse mundo é recusado
que não cabe à linguagem achar a definição
nem ao objecto ser definível. A ausência
embeleza o ausente
e para teu mel de lábio a incerteza do sabor de cada gota,
um outro lábio que sofre
essa incerteza. Um insistente fim, o estudo próximo,
a reverberação da angústia;
alguma coisa de importante foi esquecida.
Um poema é: nunca me deixes sozinho comigo.
Um poema é: não pode ser de outra maneira.
Daniel Jonas | Os fantasmas inquilinos | Cotovia | 2005
abril 28, 2017
SÃO TRISTES OS MEUS DIAS COM PEDRAS
em lugar de mãos
ou a cabeça funda na brancura
de través do travesseiro
e o corpo depresso em moles guindastes.
São dias de chorar por menos
ou teimar queixoso com um crânio polido,
batuque convexo
no muro demorado.
Ficar a ouvir o sangue,
o som tubular do sangue. Ao vale seco
da clavícula atrair a água, o sangue
e sorver a sopa intestina
ou se o líquido escapa à boca
tantálica, calar com argila
o que me pede água.
Ficar a palpar buracos
da ausência, as ligas
da ausência, as ribanceiras
a que caem os pensamentos, a cor
dióspiro que banha a enfermidade
e em seguida tomar o pulso
evadido, travar o touro, o soco da dor,
o infinito infinitivo presente.
Uma amálgama de alma
migra no fôlego do modorrento
pregão de dor, o condor
passa e anda andino e é uma
traça asfixiante: faço um céu rarefeito,
a dispneia é um felino
que arranha céus
e a boca rebuliço espúmeo
expele o sabor da morte
e o que mais consiga cuspir
por entre ovéns e enxárcias
e traves quebradas.
É uma desilusão com as coisas,
uma desilusão funda com as coisas,
com o vazio meio-cheio das coisas.
Meu fôlego um fólio cheio
de silêncio, uma catástrofe natural
um vulcão: no meu pulmão pôr lava
e no trovão treva.
Daniel Jonas | Os fantasmas inquilinos | Cotovia | 2005
em lugar de mãos
ou a cabeça funda na brancura
de través do travesseiro
e o corpo depresso em moles guindastes.
São dias de chorar por menos
ou teimar queixoso com um crânio polido,
batuque convexo
no muro demorado.
Ficar a ouvir o sangue,
o som tubular do sangue. Ao vale seco
da clavícula atrair a água, o sangue
e sorver a sopa intestina
ou se o líquido escapa à boca
tantálica, calar com argila
o que me pede água.
Ficar a palpar buracos
da ausência, as ligas
da ausência, as ribanceiras
a que caem os pensamentos, a cor
dióspiro que banha a enfermidade
e em seguida tomar o pulso
evadido, travar o touro, o soco da dor,
o infinito infinitivo presente.
Uma amálgama de alma
migra no fôlego do modorrento
pregão de dor, o condor
passa e anda andino e é uma
traça asfixiante: faço um céu rarefeito,
a dispneia é um felino
que arranha céus
e a boca rebuliço espúmeo
expele o sabor da morte
e o que mais consiga cuspir
por entre ovéns e enxárcias
e traves quebradas.
É uma desilusão com as coisas,
uma desilusão funda com as coisas,
com o vazio meio-cheio das coisas.
Meu fôlego um fólio cheio
de silêncio, uma catástrofe natural
um vulcão: no meu pulmão pôr lava
e no trovão treva.
Daniel Jonas | Os fantasmas inquilinos | Cotovia | 2005
abril 27, 2017
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©Kafka’s own doodles |
- Este?
- Não. Esse está em cima do sofá.
- Toma.
- Mas este é de BD e não estava em cima da mesa.
- Queres o Beckett?
- Não, não é o Beckett. O Beckett está na prateleira. Quero esse que está em cima da mesa, o Kafka.
- Mãe, eu ainda não sei ler.
- Estou a falar desse livro que está em cima da mesa grande, mesmo à tua frente. Não gozes comigo.
- Este?
- Sim. Irra, que estava difícil. Franz Kafka - o nome do autor.
- Ah, afinal sempre querias o Beckett! (risos)
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©Beckett’s doodles from the “Watt” notebooks |
abril 22, 2017
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©Thomas Hoepker |GERMANY. East Berlin. Fallen angels from facade of the Berlin cathedral in street | 1974 |
PLAY Massive Attack | Splitting the Atom
Nascemos para esse voo - infinito terrestre-
para a depuração de sinónimos,
com magia de códigos alpinos.
Enterramos a cabeça,
deixamos as pernas de fora,
esperamos que cresçam,
esperamos que andem.
Desperdiçamos quedas,
desperdiçamos abismos.
Fatalmente intoxicados,
por"se's" e "mas",
caímos, por terra, frouxos,
nestes corpos mínimos,
onde as asas não quiseram voar.
Agonizamos inscritos no epitáfio:
«Aqui jazem,
infinitos indizíveis, por nascer».
abril 20, 2017
I cry in my sleep
Sometimes you stay
Sometimes you stay
You never know why
Please say my name
Don't turn away
[chorus]
The pain is black
The pain is bright
The pain is black
The pain is bright
The pain is bright
Then I awake
And in the half light
Watching my movements
Through half closed eyes
You're touching me
As a priest loves pornography
We played beneath the patterns[?]
Don't turn away
[chorus]
Kissed by the years
Caresses of time
Marking the lines
The lines of expression
The patterns of place
The patterns of youth
The patterns of love
Don't turn away
Say my name
Say my nameabril 14, 2017
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©Leonard Freed | Wall Street |New York City. USA |1956 |
"Numa grande estrada não é raro vermos uma onda, uma onda solitária, onda fora do oceano.
Não tem utilidade nenhuma, não constitui nenhum jogo.
É um caso de espontaneidade mágica."
*
* *
"Os Magos amam o escuro. Os principiantes não podem passar sem ele. Exercitam a mão, se assim pode dizer-se, em baús, roupeiros, guarda-fatos, cofres, caves, sótãos, caixas de escada.
Não há dia em minha casa que não saia do armário qualquer coisa insólita, seja um sapo, um rato, aliás com cheiro a inépcia e que logo ali se esvai sem poder fugir.
Até enforcados se encontravam, dos falsos claro está, onde nem a corda era verdadeira.
Quem pode garantir que a gente se habitue com o tempo? Uma apreensão retinha-me sempre por um instante, com a mão indecisa no puxador.
Um dia rolou uma cabeça ensanguentada para cima do meu casaco acabado de estrear, sem lhe fazer, aliás, nenhuma nódoa.
Depois de um instante - infecto - de nunca mais querermos viver outro igual - voltei a fechar a porta.
Tinha que ser um noviço, este Mago, para não conseguir pôr uma nódoa num casaco tão claro.
Mas a cabeça, o seu peso, o seu aspecto geral, tinham sido bem imitados. Pavorosamente, agoniado, eu já estava a senti-la a cair-me em cima quando desapareceu."
Henri Michaux (1967) | No País da Magia | Hiena Editora | 1987
abril 12, 2017
abril 03, 2017
"Por vezes vinha um motorista novo, e eu pensava: como é que eles escolhem estes filhos da mãe? Temos água profundas de ambos os lados e basta uma má decisão para o tipo nos matar. Era ridículo. Suponhamos que ele tem uma discussão com a mulher nessa manhã? Ou o cancro? Ou visões de Deus? Dentes podres? O que seja. Estava ao seu alcance. Mandar-nos a todos para o galheiro. Eu tinha noção de que, se fosse eu ao volante, consideraria a possibilidade ou a desejabilidade de afogar toda a gente. E, por vezes, na sequência de tais considerações, as possibilidades tornam-se realidade. Para cada Joana d'Arc há um Hitler empoleirado na outra ponta do balancé. A velha história do bem e do mal. Mas nenhum dos motorista chegou a mandar-nos para o galheiro. Em vez disso, iam a pensar em prestações do carro, resultados do basebol, cortes de cabelo, férias, clisteres, visitas de família. Não havia um homem a sério naquela pandilha. Eu chegava sempre ao trabalho maldisposto mas em segurança. O que prova por que é que o Shumann era mais raltivo do que o Shostakovich..."
Charles Bukowski (1975) | Factotum | Alfaguara | 2017
Charles Bukowski (1975) | Factotum | Alfaguara | 2017
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©Paula Rego |
"As discussões eram sempre as mesmas. Já percebia perfeitamente: os grandes amantes são sempre homens de ócio. Eu fodia melhor quando era vagabundo do que a picar o ponto no trabalho."
Charles Bukowski (1975) | Factotum | Alfaguara | 2017
março 30, 2017
©Edvard Munch | The Scream| 1910
"Meti-me na cama, abri a garrafa, enrodilhei bem a almofada atrás das costas, respirei fundo e fiquei no escuro a espreitar a janela. Era a primeira vez que estava sozinho em cinco dias. Eu era um tipo que se dava bem com a solidão; sem ela, era apenas mais um homem sem comida ou sem água. Enfraquecia a cada dia passado sem solidão. Não me orgulhava da minha solidão; mas dependia dela. A escuridão do quarto assemelhava-se à claridade para mim. Dei um gole de vinho.
De repente, o quarto encheu-se de luz. Seguiu-se uma algazarra e um estrondo. A El passava à altura do meu quarto. Tinha passado um metro. Olhei para um friso de caras nova-iorquinas que também me olhavam. O comboio demorou-se, até que arrancou. Ficou escuro. Depois o quarto voltou a encher-se de luz. Olhei novamente para os rostos. Parecia a visão do inferno em repetição ininterrupta. Cada nova remessa de rostos era mais feia, demente e cruel do que a anterior. Dei um gole de vinho.
A coisa continuava: escuridão e depois luz; luz e outra vez escuridão. Acabei o vinho e saí para ir buscar mais. Voltei, despi-me, enfiei-me novamente na cama. Prosseguia a chegada e partida dos rostos; tive a sensação de estar a ter uma visão. Estava a ser visitado por centenas de diabos que o Próprio Diabo não conseguia aturar. Dei mais um gole de vinho."
Charles Bukowski (1975) | Factotum | Alfaguara | 2017
"Levava uma mala de cartão que estava a desfazer-se. Tinha sido preta outrora, mas o revestimento preto descamara e via-se agora um cartão amarelo. Problema que eu tentara resolver colocando graxa preta por cima do cartão que estava à mostra. À medida que ia caminhando à chuva, a graxa começou a escorrer pela mala e fui esfregando inadvertidamente umas riscas em ambas as pernas das calças ao trocar a mala de uma mão para a outra."
Charles Bukowski (1975) | Factotum | Alfaguara | 2017
março 23, 2017
março 21, 2017
março 19, 2017
março 17, 2017
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©Josef Koudelka | Lebanon (Beirut) From the series Chaos |1991 |
GRELHA DE LINGUAGEM
O círculo dos olhos entre as barras.
Animal vibrátil a pálpebra
rema para cima,
descobre um olhar.
Íris, nadadora, sem sonhos, e turva:
o céu, cinzento-coração, deve estar perto.
Oblíqua, no bico de ferro,
a apara fumegante.
Pelo sentido da luz
adivinhas a alma.
(Fosse eu como tu. Fosses tu como eu.
Não estivemos nós
sob uma mesma monção?
Somos estranhos.)
Os ladrilhos. Sobre eles,
bem juntas, as duas
poças cinzento-coração:
duas
bocas cheias de silêncio.
SPRACHGITTER
Augenrund zwischen den Stäben.
Flimmertier Lid
rudert nach oben,
gibt einen Blick frei.
Iris, Schwimmerin, traumlos und trüb:
der Himmel, herzgrau, muß nah sein.
Schräg, in der eisernen Tülle,
der blakende Span.
Am Lichtsinn
errätst du die Seele.
(Wär ich wie du. Wärst du wie ich.
Standen wir nicht
unter einem Passat?
Wir sind Fremde.)
Die Fliesen. Darauf,
dicht beieinander, die beiden
herzgrauen Lachen:
zwei
Mundvoll Schweigen.
Paul Celan (1959) in As Escadas não têm Degraus 3 | Cotovia | 1990
Acto Segundo (1 + 1)
(Versão 2.1) Intermezzo
[A música do segundo Acto Primeiro cessou. A cortina foi fechada. De um lado, o público estarrecido. Do outro, dois corpos que repousam esgotados. Ouve-se PLAY Fausto
@ não se move. π arrasta-se, transpõe a cortina, ajoelhado, como quem reza.]
π: [com seriedade, em tom grave]
creio-nos em almas escancaradas,
de jangada que toma de assalto as ternuras e delícias que flutuam na desconjuntada periferia do tempo
como se ali tivessem morado sempre,
as ternuras e delícias,
revistas no tempo de sempre
em escassos cinco minutos (dos nossos)
mas não!
terão passado quatro (ou teriam sido cinco mil?) unidades de tempo maior,
daquelas medidas pela dança da Terra à volta do Sol
[sim, confirmei no Google a definição de um ano (dos homens)]
o tempo é-nos sempre tão confuso
e a memória comum e a arqueologia dos dias estão guardadas na magia de um clique,
talvez à matéria das almas escancaradas não lhe assista factos tão perfeitamente inúteis
mas só podem ter sido quatro (ou teriam sido cinco mil?)
unidades de tempo maior, condensadas num minuto (do nosso encontro)
preciso-nos em almas escancaradas de gigante,
sem garantir que o trajecto da nossa luz ao vazio se faça em porções de 1/299792458 de segundo ou em qualquer outra fracção
perfeitamente maiores, seremos, pois,
nos passos do nosso encontro
à razão de sermos próximos das coisas que não se tocam,
feitos em pormenores do reflexo das árvores concretas,
que flutuam e descansam nas águas do rio
na perfeita liberdade de ser-plano
(à tona do mundo de Edwin Abbott)
creio-nos em almas escancaradas,
tão claras e distintas de detalhes,
na complexidade que se esbate nas coisas planas e mágicas
em plena liberdade de existência
foge-nos o vício,
da morbidez,
(daquela a que os homens se habituaram a querer viver)
e escolhemos a matéria etérea e fugaz para existir,
em almas escancaradas ao sabor e aroma do perfume das chuvas
esgueiramo-nos, sensíveis, aos toques ímpios na água
(os que dissolvem a magia da revelação)
e somos de tal infinitas maneiras
que só o poema nos poderá eternizar.
sim, creio-nos em poesia!
Público: [Em coro] sim, creio!
[π transpõe, novamente, a cortina e junta-se a @.
@, em posição flectida, tronco erguido a 90º, revela três rugas entre os olhos, manifestando no rosto expressão de zanga.]
π: [Encolhendo os ombros e flectindo o braço, pelo cotovelo, ergue as palmas das mãos em simultâneo, viradas para @, formando um ângulo recto com o antebraço] Eu posso explicar!
Ouve-se, ao longe, PLAY Fausto.
março 10, 2017
março 09, 2017
março 03, 2017
março 01, 2017
fevereiro 24, 2017
fevereiro 22, 2017
fevereiro 21, 2017
fevereiro 20, 2017
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fotograma de Kill Bill Vol. 2 | Quentin Tarantino | 2004 |
Bill: "Não és uma pessoa má. És uma pessoa sensacional. És a minha pessoa preferida. Mas, em certas situações, és capaz de ser uma verdadeira puta."
Matrimónio, Manicómio
fotograma de Cidade das Mulheres | Fellini | 1980 "A penetração é um crime que deveria de dar 1 a 10 milhões de multa" |