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©Francesca Woodman |
"Era um homem que banalizava o mundo para poder ser nele acolhido sem drama, que transformava o horror e a maldade em lugares-comuns, para não sentir remorsos. E, apesar do meu ódio, também eu o amava, porque a indiferença que ele introduzia na sua vida e na dos outros me dava uma paz intensa, por isso estava prestes a segui-lo numa viagem, numa deserção, ou num crime. Assim me tornava a cúmplice perfeita, colada aos seus passos, fascinada pela sua voz. Perto dele, as palavras regressavam com uma fluência mentirosa, como se tivéssemos voltado da morte e tudo pudesse ser dito. Todos os gestos pudessem ser feitos"
Rui Nunes,
Os Olhos de Himmler, Relógio d'Água, 2009