|Assim repito o nome e sinto ainda o incêndio no rosto :|| paul celan |Porque é com nomes que alguém sabe | onde estar um corpo| por uma ideia, onde um pensamento | faz a vez da língua.| herberto helder
outubro 07, 2025
outubro 01, 2025
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© Antoine d’Agata | 1998 |
PLAY Tori Amos | Precious Things
E se, em vez de sofrer menos, ou tanto, como no primeiro dia, sofre mais, à medida que o tempo vai passando, cada vez mais, à medida que se vai fazendo a transferência do futuro que não muda para o passado imutável? Uma coisa diferente, mas dentro da mesma ordem de ideias. O caso é espinhoso. Um sofrimento estacionário não será preferível ao sofrimento cujas flutuações levam por instantes a pensar que afinal talvez não dure para sempre?
Samuel Beckett | O inominável | Assírio & Alvim
setembro 05, 2025
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©raquelsav | Montes | Setembro 2025 |
PLAY Benedict Cumberbatch Reciting John Keats's Ode to a Nightingale
Gostaria de me ter calado antes, havia momentos em que julgava que a minha recompensa por ter falado com tanta coragem era entrar vivo no silêncio, para poder saboreá-lo, não, não sei porquê, para sentir que me calava, unido a todo esse ar que só eu agito desde sempre, não, não é ar verdadeiro, não posso dizer, não posso dizer porque é que gostaria de me calar antes de estar morto, para ser finalmente o que sempre fui e nunca pude ser, sem receio de pior ainda tranquilamente no lugar onde estive sempre e nunca pude repousar, não, não sei, é mais simples, queria-me, a mim, queria o meu país, queria-me no meu país, só por um instante, não queria morrer como um estrangeiro, entre estrangeiros, estrangeiro na minha terra, rodeado de invasores, não, não sei o que queria, não sei o que julgava, devo ter querido tantas coisas, imaginando tantas loucuras, enquanto ia falando, sem saber ao certo quais, que fiquei cego, de desejos e de visões, tudo à mistura, mais valia ter tido cuidado com o que dizia.
Samuel Beckett | O inominável | Assírio & Alvim
agosto 25, 2025
junho 27, 2025
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©raquelsav | 2024 |
PLAY Rebekah Del Rio | Llorando
No matter how no matter where. Time and grief and self so-called. Oh all to end.
Samuel Beckett | Stirrings still
maio 19, 2025
Tal como o sol ilumina, ao longe,
a chave que abre a porta já escancarada,
há quem procure abrigo em tecto ruído,
onde a chuva só chove — molhada.
“nada se perde, tudo se transforma” —
não rouba o lamento a quem perece,
pois à gramática dos seres finitos
não é a lei geral que obedece.
maio 12, 2025
abril 19, 2025
PLAY GNR | Saliva
fingimos declarar morte ao sol:
há muito que aprendemos
a domesticar silêncios,
quando o inverno nos habita.
guardamos o perfume do primeiro jasmim, que perpetuamos nos nossos dias de chuva.
Sorrimos, com malícia, da heresia dessa imperfeição
e dizes que se até a folha recortada retém a água que bebe,
também nós saberemos matar a sede na própria saliva:
devagar…
a expirar…
a afundar…
a apagar...
Até que uma Primavera nos renasça,
ou um inverno nos separe
abril 16, 2025
março 17, 2025
fevereiro 23, 2025
Seguia apressada, chovia. Mas deparei-me com este símbolo partido e não resisti em parar. Estagnei perante o que achei ser uma metáfora. Refleti brevemente sobre o que aquela imagem me suscitou: peças quebradas sem possibilidade de reparação, uma marca em decadência, um país fragilizado, um motor em declínio, países como peças de dominó a cair por arrasto… o meu país…
Fiquei mais um minuto a contemplar a cena e procedi como um típico europeu: fotografei, para mais tarde partilhar a minha inquietação (no conforto do lar), e segui em frente. Que mais podia eu fazer? Estava a chover, e é muito desagradável ficar molhadafevereiro 09, 2025
Queda de um grave
- LXXXII-