setembro 21, 2014

©raquelsav

Há abraços que nunca se fecham:
não sabemos como os iniciar,
não saberíamos como os findar.

Há abraços que morrem sem terem nascido.

Edmundo de Bettencourt

©Chris Steele-Perkins
Japan. Tokyo. Virtual Reality helmets. Tokyo motor show
PLAY Eddie Vedder - Guaranteed


A máquina prisioneira

A máquina acabava o dia a mastigar
e aos poucos os dentes lhe caíam
perdendo-se na espuma do ar negro,
ondulante, da fábrica.

Um desejo insubmisso
de cercar os átomos gigantes
vinha encher um braço
donde surgia um corpo
lacerado
sangrento!
e donde surgia um braço
cheio de sangue novo
que libertava a máquina!

A sorrir desdentada
a máquina adormecia...

Edmundo de Bettencourt, Poemas de Edmundo de Bettencourt, 

Assírio & Alvim


Guaranteed

On bended knee is no way to be free
Lifting up an empty cup, I ask silently
All my destinations will accept the one that's me,
So I can breathe...

Circles they grow and they swallow people whole
Half their lives they say goodnight to wives they'll never know
A mind full of questions, and a teacher in my soul
And so it goes...

Don't come closer or I'll have to go
Holding me like gravity are places that pull
If ever there was someone to keep me at home
It would be you...

Everyone I come across, in cages they bought
They think of me and my wondering, but I'm never what they thought
I've got my indignation, but I'm pure in all my thoughts
I'm alive...

Wind in my hair, I feel part of everywhere
Underneath my being is a road that disappeared
Late at night I hear the trees, they're singing with the dead
Overhead...

Leave it to me as I find a way to be
Consider me a satellite, forever orbiting
I knew all the rules, but the rules did not know me
Guaranteed


setembro 20, 2014

©raquelsav

"Dai de comer a quem tem fome e de beber a quem tem sede"

©Herbert List (1903-1975)
GREECE. Attica. Glifadha near Sounion. "Mise en scene with George HOYNINGEN-HUENE"

O contrário de vivo é um gesto de braço solto para baixo.
Não há como resistir à gravidade quando nos demitimos de ser (a termos sido por algum momento).
Entre um extremo e o outro há um meio pelo qual, nem sempre, queremos passar. Nele mora a liberdade. Porque a liberdade também vive na indiferença do equilíbrio, esse lugar onde nos demitimos de ser.

Ser vivo é um braço no ar onde o sangue custa a chegar.


Jacqueline Du Pré



Demorando-se 
em tudo o que é água
este dia primaveril termina

Issa, O Crisântemo Branco: Antologia de Haiku

Ed. Pedra Formosa


Trailer Hilary and Jackie

Filme com notas biográficas  de  Jacqueline Du Prè

setembro 08, 2014

Roberto Juarroz

©Harry Gruyaert Mali. Town of Gao. 1988. Terrace of a local hotel.

Há palavras que não dizemos
e que pomos sem dizê-las nas coisas.

E as coisas guardam-nas,
e um dia respondem-nos com elas
e salvam-nos o mundo,
como um amor secreto
em cujos dois extremos
há uma só entrada.

Não haverá uma palavra
dessas que não dizemos
que tenhamos colocado
sem querer no nada?

Roberto Juarroz

setembro 07, 2014

©raquelsav

Ser sombra. Não marcar a areia. Depurar a matéria. Expurgar o excesso que nos faz sombra de nós. 
Ser leve ou, então, não ser.
                                                                              
The land returns to how it has always been
Thyme carried on the wind(...)
Cruel nature has won again
©raquelsav 

A chuva chove e eu chovo com ela.
Chovo com a chuva, enquanto a chuva chove.

setembro 01, 2014

- o que é estar morto?
- é um braço para baixo.