julho 09, 2018

Leonard Freed | New York City, USA | Little Italy | 1955

"Mas, mesmo do ponto de vista das coisas mais insignificantes da vida, nós não somos um todo materialmente constituído, idêntico para toda a gente e de quem cada um apenas tenha de tomar conhecimento, como de um caderno de encargos ou de um testamento; a nossa personalidade social é uma criação do pensamento dos outros. Mesmo o acto tão simples a que chamamos "ver uma pessoa conhecida" é em parte um acto intelectual. Preenchemos a aparência física do ser que vemos com todas as noções que temos sobre ele e, na figura total que imaginamos, essas noções possuem certamente um importante papel. Elas acabam por inchar as faces tão perfeitamente, por acompanhar numa aderência de tal modo exacta a linha do nariz, tratam tão bem de graduar a sonoridade da voz como se esta não passasse de um transparente invólucro, que, de cada vez que vemos este rosto e que ouvimos esta voz, são essas as noções que reencontramos, são elas que escutamos."

Marcel Proust (1871 -1922) | Em busca do tempo perdido - Do lado de Swann | 3ª Ed. | Relógio D'Água | Trad. Pedro Tamen | pp. 25-26