julho 30, 2018

O infinito

 Sempre gratas me foram esta colina tão só
E esta sebe alta e extensa
Que não deixa ver o último horizonte.
Mas quando me demoro a contemplá-la
O meu espírito gera para além dela 
Intermináveis espaços, silêncios sobre-humanos
Uma paz escura, profunda; e pouco falta 
Para o terror me assaltar o coração. E quando
Ouço o vento sussurrar nas plantas
Comparo o infinito de tanto silêncio
A esta voz, e lembro-me da eternidade
Das estações mortas, do tempo presente
E vivo, do seu murmúrio brando. Assim
Se aniquila o meu espírito na imensidão:
E é-me grato naufragar neste mar.

Giacomo Leopardi (1798 - 1837) | in Rosa do Mundo | Tradução de Ernesto Sampaio | Assírio&Alvim | 2001