fevereiro 16, 2024

 

©raquelsav | 2022 | Somiedo


“Palavras constroem pontes em regiões inexploradas”
Não tenho como confirmar o autor desta afirmação. Será:
- do filósofo da linguagem Ludwig Wittgenstein? Até faria algum sentido, para quem, como ele, tanto indagou sobre o significado das palavras;
- do escritor Gonçalo M. Tavares? De certo modo, podia enquadrar-se na sua linha editorial;
- do papa Francisco? Por que não? Grande parte da sua ação tem consistido em (procurar) criar pontes improváveis e desafiantes.
Enfim, são muitos os candidatos a autor que eu equacionaria.
Mas diz a “internet” que esta frase foi usada (criada?) por Adolf Hitler.
Aferir a veracidade desta atribuição não é fácil e parece-me secundário, neste momento. Mas não deixa de ser, para mim, desarmante, e até confrangedor, rever-me numa ideia (supostamente) compactuada por Adolf Hitler.
Esta situação alertou-me para o perigo que consiste em embarcar numa ideia “bonita”, mas ideologicamente descontextualizada ou alheia às suas origens. Advertiu-me sobre a responsabilidade que tenho em me manter vigilante relativamente às ideias que vou ouvindo, e arrumando em gavetas circunscritas a um determinado contexto. De me situar nelas e repensar o meu “pequeno” papel de cidadã na grande ambição que é manter a (tão frágil) democracia no mundo, no meu país. Tornou-se tão exigente esse papel!
Eu ainda acredito que ao cidadão contemporâneo comum, compete não desistir de discernir entre a verdade da mentira ( ou será a mentira da verdade?). Mas não acredito em verdades absolutas (passo o paradoxo da afirmação). E, não descurando da sua relatividade, considero que há “verdades” que, realmente, são mais verdadeiras (diria interessantes, mobilizadoras e construtivas) do que outras. A democracia (o sistema mais, imperfeitamente, justo que conheço) compensa o esforço de as destrinçar.
Cuidarei, por isso, de ouvir as palavras, de as registar antes que as leve o vento, e de apanhar as verdades, nem que seja à moda dos Naifa, com enganos.