Entroncamento->LX©raquelsav |
Não tenho a cabeça cheia dessas frases, dos livros que não li, e duvido que entenda dessas coisas do amor. Não escrevo nas histórias que não vivi, nem nas entrelinhas, onde tudo me sabe a pouco. Mas ontem disseram-me: - Gosto de te ver assim. E eu fiquei a pensar: - E eu gostava de me ver, sim. Faz tempo que não me vejo. Foram tão raras as vezes que me vi. E hoje não te oiço: descobri que preciso de te ouvir para me ver. Tenho pena de não perceber dessas coisas do amor, porque o som infinito da concha murmura-me palavras pintadas de cor de rosa, que não sei distinguir. Mas eu cumpro o som da concha e guardo-o em uníssono para mim. Não há byte ou decibel que eu transgrida neste infinito que é não me ver. E torno transparentes as palavras, também. Sei que somos sós, porque sós é tudo o que sabemos ser. Aliás, é esse o mais que nos une. Despidos sabemos quem somos. Nus, ainda nos reconhecemos. Tenho medo: tudo me parece tão infinitamente pequeno e duvido que exista vida para além do vidro.