"A memória
O senhor Henri estava sentado no banco de jardim a pensar se o seu corpo se levantaria para ir beber um copo de absinto.
O senhor Henri disse: a minha alma já se levantou.
O senhor Henri olhou depois para o corpo, tentando localizar o próprio rosto, mas não conseguiu.
... há partes do meu corpo que só posso ver com os meus olhos, e há outras que só posso ver com a memória.
... é como se a memória tivesse olhos, e mais antigos que os outros dois.
O senhor Henri depois calou-se.
E o senhor Henri, depois de um breve silêncio, disse: o certo é que a minha vontade já bebeu um copo de absinto, e eu não.
... a minha vontade já se encontra, neste momento, mais bêbada que eu. …vou, pois, apanhá-la - disse o senhor Henri."
O senhor Henri estava sentado no banco de jardim a pensar se o seu corpo se levantaria para ir beber um copo de absinto.
O senhor Henri disse: a minha alma já se levantou.
O senhor Henri olhou depois para o corpo, tentando localizar o próprio rosto, mas não conseguiu.
... há partes do meu corpo que só posso ver com os meus olhos, e há outras que só posso ver com a memória.
... é como se a memória tivesse olhos, e mais antigos que os outros dois.
O senhor Henri depois calou-se.
E o senhor Henri, depois de um breve silêncio, disse: o certo é que a minha vontade já bebeu um copo de absinto, e eu não.
... a minha vontade já se encontra, neste momento, mais bêbada que eu. …vou, pois, apanhá-la - disse o senhor Henri."
Gonçalo M. Tavares, O Senhor Henri, Caminho, 2003