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©Thomas Dworzak. AFGHANISTAN. Kabul. 04/2002. Cemetery on the outskirts of the city |
"Escreve ela ainda:
"Nem imaginas como há no céu tanta coisa, que só vendo se acredita. Olha, por exemplo, as... mas não vou dizer-te já o nome.
Embora pareçam pesadas e ocupem quase todo o céu, não têm peso nenhum apesar de tão grandes, do tamanho de um recém-nascido.
Dá-se-lhe o nome de nuvens.
É verdade que deitam água, mas sem as apertarmos, nem triturarmos. Tão pouca têm, que seria inútil.
Mas desde que ocupem lonjuras e mais lonjuras, larguras e mais larguras, fonduras e mais fonduras e lhes dê para fazer de inchadas, com o tempo chegam a deixar cair algumas gotículas de água, sim, de água. E bem molhadas ficamos. Fugimos, furiosas por nos terem apanhado; pois ninguém sabe em que momento vão deixar cair as suas gotas; são dias, às vezes, sem as deixarem cair. E de nada valeria esperarmos em casa."
Henri Michaux, Estou a escrever-te de um país distante, Hiena Editora, 1986
(tradução de Aníbal Fernandes)