CONTRA!
Hei-de construir-vos uma cidade de farrapos, eu!
Construir-vos-ei sem planta nem cimento
Um edifício que não destruireis,
E que uma espécie de evidência espumante
Há-de sustentar e inchar, há-de gritar-vos à cara,
E à cara gelada de todos os vossos Pártenons, as vossas artes árabes, e os vossos Mings.
Com fumo, com diluição de nevoeiro
E com o som de pele de tambor
Hei-de edificar-vos fortalezas esmagadoras e soberbas,
Fortalezas exclusivamente feitas de redemoinhos e solavancos,
Contra as quais a vossa ordem multimilenária e a vossa geometria
Ruirão em palermices e sofismas e pó de areia sem razão.
Dlão! Dlão! Dlão! Sobre todos vós, dobre de finados aos vivos!
Sim, creio em Deus! Está claro que ele não sabe de nada!
Fé, solas inúteis para quem não progride.
Ó mundo, mundo estrangulado, ventre frio!
Nem sequer símbolo, mas ausência, eu contra, eu contra,
Eu contra e atulho-te de cães esfaimados.
Às toneladas, estão-me a ouvir, às toneladas, hei-de arrancar-vos tudo aquilo que recusaram em gramas.
O veneno da serpente é o seu fiel companheiro,
É fiel e ela dá-lhe o justo valor.
Irmãos, meus irmãos malditos, segui-me com confiança.
Os dentes do lobo não se retraem do lobo
É a carne de carneiro que retrai.
No escuro veremos claro, meus irmãos.
No labirinto acharemos a via recta.
Carcaça, que fazes aqui, marafona, mijona, penico partido?
Como hás-de sentir, moitão rangente, os cordames tensos de quatro mundo!
Como te hei-de esquartejar!
Henri Michaux
Antologia, Relógio D'Água, 1999
Hei-de construir-vos uma cidade de farrapos, eu!
Construir-vos-ei sem planta nem cimento
Um edifício que não destruireis,
E que uma espécie de evidência espumante
Há-de sustentar e inchar, há-de gritar-vos à cara,
E à cara gelada de todos os vossos Pártenons, as vossas artes árabes, e os vossos Mings.
Com fumo, com diluição de nevoeiro
E com o som de pele de tambor
Hei-de edificar-vos fortalezas esmagadoras e soberbas,
Fortalezas exclusivamente feitas de redemoinhos e solavancos,
Contra as quais a vossa ordem multimilenária e a vossa geometria
Ruirão em palermices e sofismas e pó de areia sem razão.
Dlão! Dlão! Dlão! Sobre todos vós, dobre de finados aos vivos!
Sim, creio em Deus! Está claro que ele não sabe de nada!
Fé, solas inúteis para quem não progride.
Ó mundo, mundo estrangulado, ventre frio!
Nem sequer símbolo, mas ausência, eu contra, eu contra,
Eu contra e atulho-te de cães esfaimados.
Às toneladas, estão-me a ouvir, às toneladas, hei-de arrancar-vos tudo aquilo que recusaram em gramas.
O veneno da serpente é o seu fiel companheiro,
É fiel e ela dá-lhe o justo valor.
Irmãos, meus irmãos malditos, segui-me com confiança.
Os dentes do lobo não se retraem do lobo
É a carne de carneiro que retrai.
No escuro veremos claro, meus irmãos.
No labirinto acharemos a via recta.
Carcaça, que fazes aqui, marafona, mijona, penico partido?
Como hás-de sentir, moitão rangente, os cordames tensos de quatro mundo!
Como te hei-de esquartejar!
Henri Michaux
Antologia, Relógio D'Água, 1999