março 09, 2014

arqui-te-crua

©raquelsav

PLAY A Naifa - Émulos

sono. muito sono
e ainda agora acordei.
não estou certamente determinada
sobre os émulos do chão em que aterro
ou do letargo da noite ou da vigília da insónia:
em nenhum há paixão que adivinhe vida
conseguisse eu entender porque saltei,
ou não saltei, por o entender

sangue. muito sangue

na guelra da força que chora bruta por dentro
tão erraticamente imanente 
tão erraticamente crua
pavoneando-se orgânica entre a matéria sentida e a matéria pensante,
lugar que habito perfeitamente líquida e imprescindível

leis. muitas leis
das que se escrevem na conjugação dos verbos nus:
ter ser estar querer roubar saltar foder ir voltar beber etc.
no tempo oral e na pessoa da liberdade.
leis geometricamente imprecisas, medidas de luz e breu
onde não se adivinham, reluzentes,
os pigmentos do ser e do mundo 
que se espalham noutros mundos
sem direitos a remissões e agradecimentos

firme. muito firme
o pé que pisa as migalhas que deixei cair por direito
descrevo- passo a redundância- arqui-te-crua a casa 
em espaço tão higiénico, de não se querer viver
ou banho que não lava esta urgência felina: escrever o mundo sobre a forma de paixão, num poema esfoliante do corpo e da ideia que me assola

não confio não confio não confio 
em mim

continua desenhadamente na minha ideia
a confusão:
ideia criadora? ideia canibal?
ideia da razão e da sua mecânica concreta:
      puta que se vende por meia tuta

hoje habito o contraditório
na urgência felina do mundo- o meu. esclareça-se:
recôndito lugar sem chave
não a encontro
não a descubro
não a deixo descobrir, na luz 
do breu nasce o medo de o tornar maior:  
       o mundo- o meu. esclareça-se.

palavra. pouca palavra
sem palavra que se adivinhe
nas indefinidas formas da conjugação verbal dos verbos nus e crus

fui. fomos
voltei. voltámos
fui. fomos
e bebemos (juntos) do silêncio


(9-3-2014)